ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Visionamento seguido de comentários: recepção audiovisual em Youtube |
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Autor | mahomed bamba |
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Resumo Expandido | O sujeito “espectador”, diferentemente do “público”, permanece uma categoria em contínua construção na teoria na recepção. Enquanto o “publico” é uma realidade que se deixa apreender em termos empíricos (consumo e perfil sócio-econômico) o espectador é uma entidade fugidia por causa da subjetividade que o configura. Os estudos da recepção cinematográfica procuram “construir” teoricamente o espectador dentro de perpectivas pragmática, sociológica, culturalista. Nas abordagens mais historicistas há interesses convergentes quanto ao estudo dos modos e lugares da recepção e seus impactos nos comportamentos espectatoriais.
Ao longo da história do cinema, a evolução dos espaços de exibição fílmica ocorreu conjuntamente com a especificação de um público cinematográfico. Paralelamente ao processo de institucionalização das salas de cinema, o “fato espectatorial” foi se configurando como uma realidade a parte. Estudos de cunho behaviorista procuraram prever ou medir com precisão atitudes e expectativas consagradas de alguns públicos. A filmologia de Etienne Souriau introduz um limiar entre o nível “filmofânico” e um plano rigorosamente “espectatorial” no universo filmico. Assim o “fato espectatorial” concerne à “personalidade psíquica” de quem está diante de uma tela e dentro de uma sala escuro. De acordo com a perspectiva filmológica, a espectatorialidade tem a ver também com atitudes subjetivas depois da sala escura, isto é, “impressões do espectador na saída do filme”. Esta definição tem o mérito de conceber a experiência cinematográfica além do momento da projeção e leitura fílmica. O espectador procura sempre espaços de manifestação de suas “impressões” fílmicas. Estes lugares proliferam com o advento das novas tecnologias de comunicação. Uma história das condições materiais da recepção deve levá-las em conta. O computador completou a tv, o videocassete e leitor de dvd na recepção caseira e privada dos filmes e produtos audiovisuais. A Internet, por sua vez, fez nascer novos comportamentos espectatoriais que já são objeto de várias reflexões teóricas e críticas. Com youtube é como se tivéssemos passado de uma recepção “passiva” para uma recepção mais “reativa”. Além de poder (re)encontrar e visionar filmes e videoclipes quantas vezes quiser, doravante o sujeito espectador dispõe de um espaço consagrado à manifestação pública de suas impressões. Em alguns casos ele opina sobre seqüências e trailers antes e depois de ter visto os filmes em sala de cinema. Às vezes ele recorre a youtube como galeria e “videoteca”. Ao permitir um acesso livre e ilimitado aos trechos de filmes e videoclipes, o portal youtube permite também a livre expressão daquilo que podemos chamar do “exercício do juízo de gosto”. Diferentemente dos blogs e outros forums de discussão sobre cinema, youtube tem a particularidade de ser um espaço que congrega a atividade de recepção (visionamento) e de produção de um discurso paratextual. A maioria dos comentários não tem a menor pretensão de ser uma crítica especializada ou de cinéfilo. O usuário de youtube é um visitante, um flâneur no sentido baudelairiano. Como todos os ciber-flâneur, ele deixa suas impressões no rastro de suas andanças pela rede. São reações discursivas consistem na verbalização de suas impressões e juízo de gosto. Trata-se de uma “escrita imediata” . Youtube favorece assim a instauração de um novo modo de relação estética entre o espectador e as obras audiovisuais. A seguir discutiremos, numa perspectiva pragmática, os contornos do “fato espectatorial”que se configura pelos comentários escritos pelos internautas sobre trechos de filmes e videoclipes disponibilizados na Internet. Sendo assim, o youtube será concebido nestre trabalho como fonte de documento que informa sobre novos aspectos do fenômeno espectatorial cinematográfico e audiovisual mediado pelas novas tecnologias de comunicação. |
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Bibliografia | ESQUENAZIE, Jean-Pierre(org.). Réseaux. Communication, Technologie, Société. Dossier: Cinéma et réception. Paris, Nº99, 2000, p. 49-72; 73-98
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