ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O espaço da inversão nas instalações de Livia Flores |
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Autor | Luiz Cláudio da Costa |
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Resumo Expandido | Com várias instalações com super-8 em seu currículo, Lívia Flores apresentou um trabalho sem projetores e sem filmes no projeto Squatters/Ocupações do Museu Serralves em 2001. O trabalho chamava-se Projeto Observador e foi feito em seu próprio atelier no Porto, Portugal quando artista residente do Programa de Ateliers da Lada. A instalação consistia em transformar seu atelier em uma câmera escura através da privação total da luz no ambiente e da abertura de pequenos orifícios no vinil colado às janelas. A paisagem externa era projetada sobre as paredes internas do espaço do atelier. A imagem projetada era percebida em tempo real e os movimentos do exterior, as variações da luz, as mudanças da paisagem eram sentidas no interior. O exterior se refletia no interior de modo invertido. Como o reflexo de um espelho, o trabalho sabotava o princípio de mimese pelo da inversão. É sob a perspectiva da constituição de uma lógica da imagem que analiso as instalações com imagens de Lívia Flores. Entre 1998 e 2004, a artista produziu várias instalações com projetores de filme super-8. Da exposição na Galeria Cândido Mendes, em 1998, até sua última versão de A cadeia alimentar, em 2004 (a instalação teve cinco versões diferentes após a primeira), a artista carioca fez onze trabalhos com filme super-8. Trabalhando com projeções de imagens colhidas como ready-mades, registros tomados ao acaso e deslocados, a artista plástica carioca utilizava espelhos e vidros como superfícies refletoras, fazendo a imagem inverter seu curso determinado. A idéia é permitir a plena variação dos sentidos e das direções da imagem de maneira que o que se vê não é a simples aparência, mas a aparição dos desvios múltiplos da imagem, suas contraversões. As diversas instalações usaram superfícies refletoras (espelhos e as placas transparentes de vidro) criando um espaço de naufrágio ou de quase anulação do sujeito observador. O sentido não é algo que o observador produz a partir das imagens que vê, senão um efeito dos múltiplos desvios das imagens que percebe. O sujeito não está ali no espaço para somente agir, pois tudo se tornou um imenso espaço movente. O espaço deixou de ser um continente passivo para as ações do sujeito agente. O sujeito torna-se, por um lado, receptividade de um espaço que atua, atuando de volta com seus próprios movimentos de aproximação e distanciamento. Como afirma Dominique Païni, o cinema exposto oferece a possibilidade de ver de perto a imagem em movimento projetada e, sobretudo, a liberdade de variar essa distância (PAÏNI, 2008). O espaço das instalações de Lívia é uma máquina produtora de sentidos que são antes efeitos de inversão dos sentidos. A insistência dos espelhos e dos vidros nas instalações de Lívia Flores é uma demanda daqueles espaços moventes que acolhem o sujeito como posições múltiplas da engrenagem que desfaz toda semelhança, toda identidade. A última versão de A cadeia alimentar instalada no Centre d´Art Santa Mônica (2004), contava com 5 projetores DVD (imagens captadas em super-8), 11 espelhos e quatro seqüências de imagens em movimento: um tigre na sua jaula, a visão de um canil, uma guarita com vidro espelhado, um personagem tomando sopa com um alicate. Mas a instalação do ESPAÇO AGORA / CAPACETE (Rio de Janeiro, 2000) que trouxeram pela primeira vez os espelhos após as experiências com telas translúcidas, utilizava cinco seqüências rodadas em super-8 e projetadas simultaneamente sobre as superfícies especulares e as chapas de vidro presentes no espaço. As palavras "rodoviária - rua do hotel sem passado - centro" desenhavam um diagrama de um espaço onírico enquanto as imagens-registros tornavam assignificantes situações documentais como uma aterrissagem, o reflexo de um rio morto, formigas, uma travessia na ponte Rio-Niterói, uma fogueira, uma lacraia, travestis, a Praça XV etc. |
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Bibliografia | DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 1974.
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