ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A menina do sexo diabólico: representações do grotesco e do horror no “hardcore” brasileiro |
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Autor | Lucio De Franciscis dos Reis Piedade |
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Resumo Expandido | O trabalho investiga a exploração do grotesco e do horror nos filmes brasileiros eróticos e pornográficos dos anos 1980. Universo desprestigiado e ignorado da cinematografia, marcado pela exploração de imagens intensas envolvendo aspectos não usuais da imagética tradicional referentes à violência, sexo e morte. Onde representações do extravagante e do bizarro configuram um mundo ao revés, construído pela apropriação e transfiguração de formas narrativas, convenções e paradigmas. Causando aversão e escandalizando ao mesmo tempo em que atraem, principalmente pela explicitação de recônditos pouco convenientes, e até mesmo menos palatáveis da corporalidade, essas produções tornaram-se por demais inconvenientes para fazerem parte de qualquer campo cinematográfico.
No início dos anos 1960, José Mojica Marins ultrapassou os limites do tolerável em À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1963). Introduzindo um compêndio de perversões que resultavam em corpos mutilados e desfigurados, expressou em imagens perturbadoras a relação entre sexualidade e morte. O cruzamento entre horror e pornografia, ainda em estágio inicial com Mojica, encontra campo fértil nos cineastas do Cinema Marginal, sendo a figuração do abjeto privilegiada na construção narrativa. Podemos encontrar as raízes da corporalidade grotesca que permeia essas produções na percepção carnavalesca de mundo (Bakhtin) e no conceito de rebaixamento, vinculado às formas do mundo material e corporal com seus excessos, orifícios e funções fisiológicas. A carnavalização do mundo, incorporada por esse cinema às margens, vai além de uma representação de deformidades e perversões. Através de imagens de teor grotesco, com flutuações entre o horror e o escarnecedor, desmascaram o frágil equilíbrio entre o horrível e o burlesco. Elementos dessa estética são evidentes em parte da produção aglutinada sob a abrangente denominação de pornochanchada, notadamente os filmes feitos em São Paulo por remanescentes e herdeiros do grupo “marginal”. Durante a transição para o sexo explícito, o rompimento das barreiras do convencional e do permitido rumo ao grotesco exacerbado se dá de forma progressiva, paralelamente ao afrouxamento da censura e incremento na ousadia das cenas de sexo. Como pode ser percebido nas produções da DaCar, produtora do ator David Cardoso, que tem como ponto alto os filmes de episódios. Dos quais destaco Júlio e o Paraíso, dirigido por Fraga e incluído no filme A Noite das Taras (1980); e O Pasteleiro, de David Cardoso, presente em Aqui Tarados, do mesmo ano. Nesse período, em contrapartida ao decréscimo da qualidade das produções, se estabelecem novos modelos, conformados pelo amálgama de fórmulas cinematográficas, criatividade, ousadia e liberdade de expressão. Resultando na exacerbação do corpo grotesco, ultrapassando os limites da perversão, com aberrações, escatologia, sexo bizarro, e estupro. E que, com seu sincretismo de gêneros e nonsense acabam inserindo, entre uma cópula e outra, cenas sangrentas e de horror sobrenatural. Dentre estes filmes, vou evidenciar o episódio Com o Diabo no Corpo, da produção Os Anos Dourados da Sacanagem (1986) de Paulo Antonione, adaptação do quadrinho pornográfico de Carlos Zéfiro; e o significativo A Menina do Sexo Diabólico, dirigido em 1987 por Mário Lima, interessante e relevante exemplo dos paradigmas que pontuavam o filme pornográfico brasileiro da Boca do Lixo. Além de outros que também se dedicaram, nessa fase, a consolidar o que podemos chamar de circo de aberrações do hardcore brasileiro lançando mão dos tópicos mais insólitos. Como por exemplo o pastor alemão Jack de 24 Horas de Sexo Ardente (José Mojica Marins, 1985), a vagina falante de Senta no meu que eu entro na tua (Ody Fraga, 1985) e o vampiro anão de As Taras do Mini-Vampiro (José Adalto Cardoso, 1987). |
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Bibliografia | ABREU, Nuno César. O Olhar Pornô: a representação do obsceno no cinema e no vídeo. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1996.
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