ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O videoclipe brasileiro na era pré-MTV |
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Autor | Ariane Diniz Holzbach |
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Resumo Expandido | A quantidade de estudos sobre videoclipe vem crescendo significativamente no Brasil. Em boa medida influenciados pelo estudo pioneiro de Goodwin (1993), que apontou a importância da lógica da indústria fonográfica – tanto quanto do audiovisual – para a compreensão dos significados do videoclipe, muitos estudiosos têm se fixado nesse produto cultural para levantar questões relacionadas à música e ao universo do audiovisual. Boa parte dos estudos tem a MTV como referência, pois foi através dela que o videoclipe se tornou elemento fundamental da música pop e da indústria do entretenimento. Entretanto, poucos estudos têm se detido em dois aspectos que considero fundamentais para entender a linguagem do videoclipe no Brasil: o videoclipe do Brasil, ou seja, a produção nacional, e o videoclipe feito no país antes do advento da MTV Brasil. Este trabalho, portanto, objetiva preencher parte dessa lacuna e vai analisar a produção de videoclipe dos anos 70 do cantor Raul Seixas e dos anos 80 do grupo de rock nacional Paralamas do Sucesso.
Considera-se que o primeiro videoclipe da história foi “Bohemian Rhapsody”, da banda inglesa Queen (1975), dirigido por Bruce Gowers e Jon Roseman. Um ano antes, contudo, a televisão brasileira já veiculava produções feitas a partir de canções com muitas das características encontradas no videoclipe do Queen. Uma produção para a canção “Gita”, de Raul Seixas, foi ao ar no Fantástico em 28 de abril de 1974. Além de o cantor interpretar a canção e se direcionar para o telespectador – elementos quase onipresentes nos videoclipes posteriores –, o vídeo ajudou a alçar o artista à fama nacional. A estrutura é simples e vai se repetir em diversos videoclipes que vieram depois, como “Eu nasci há 10 mil anos atrás” (1976) e “Maluco Beleza” (1978). Em “Gita”, Raul canta acompanhado de diversas imagens relacionadas à letra que vão passando por trás dele. Até o início dos anos 80, muitos clipes, seguindo essa mesma estrutura, foram veiculados no Fantástico. Eram produzidos pela própria Globo e tiveram papel importante na construção da imagem dos artistas que tinham suas músicas aí veiculadas. No caso de Raul Seixas, o jeito alternativo, a barba e os óculos indefectíveis apareciam nos vários videoclipes, ajudando a enfatizar elementos identitários que complementavam a música e reforçavam laços entre o cantor e seus ouvintes. Boa parte dessas características aparece ainda nos anos 80, quando o BRock ganha espaço com várias bandas obtendo alcance nacional, dentre elas os Paralamas do Sucesso. Até o surgimento da MTV Brasil, em 1990, o Fantástico produziu diversos videoclipes para a banda, muitas vezes lançado a música antes das rádios. Dos 24 videoclipes que o grupo já produziu, oito foram veiculados no Fantástico nessa época. O clipe de “Meu Erro” (1985) apresenta uma estrutura mais ousada que os da década anterior. Ele mostra os integrantes da banda em uma corrida de motos, o que confere uma imagem descolada ao grupo, bem no estilo rock, além de ampliar o significado da música, que fala de amor. Em 1986 o grupo lança “Alagados”, uma das mais conhecidas até hoje, e o Fantástico faz um videoclipe com estrutura similar aos encontrados na MTV Brasil anos mais tarde. O clipe foi todo filmado na Favela da Maré, Rio de Janeiro, e mostra performances dos integrantes e várias tomadas com moradores da favela. Existem diferenças entre esses primeiros videoclipes veiculados no Fantástico e aqueles veiculados na MTV Brasil, mais tarde. Aqueles, por exemplo, eram veiculados uma única vez, não em fluxo (WILLIAMS, 1990), como ocorre no canal musical. Mas é inegável que no período pesquisado já existia uma linguagem visual que delineava as produções musicais e a identidade do artista pop. |
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Bibliografia | BUENO, Z. “O cinema de entretenimento juvenil: uma investigação sobre Bete Balanço”. In: XVII Encontro COMPÓS, 2008.
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