ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Mulher e cadeia: a construção dos sujeitos femininos no audiovisual latino-americano contemporâneo |
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Autor | Marina Cavalcanti Tedesco |
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Resumo Expandido | Desde os anos 1970, uma série de pensadoras/es tem se proposto a refletir sobre o audiovisual a partir de uma perspectiva feminista. Pode-se dizer que, a partir desta década, “o foco da teoria radical deslocou-se das questões de classe e ideologia para outras preocupações” (STAM, 2003:192); as questões de gênero entre elas.
Passados vários anos, pode-se afirmar que os textos clássicos da época ainda são referências obrigatórias, tanto por sua importância para a fundação de mais um campo de análise, crítica e realização cinematográficas como pela atualidade que conservam alguns de seus principais pontos. Contudo, houve muitas críticas, avanços teóricos e mudanças sociais que devem ser observados em uma reflexão contemporânea dentro dos estudos de gênero. Atualmente existe o consenso de que “há uma produção da mulher para consumo de um público masculino e feminino ... sendo as mulheres, também, consumidoras dos mitos patriarcais sobre a mulher” (ADELMAN, 2003:84). Sobre a representação das mulheres em obras audiovisuais, a fala de Laurentis (2003:4-6) sintetiza uma posição cada vez mais aceita quando se trata do tema: Tais discussões sobre imagens da mulher dependem de uma oposição muitas vezes rasa entre positivo e negativo, a qual não é apenas desconfortavelmente próxima a estereótipos populares, tais como mocinhos versus bandidos ou boa moça versus garota má, como contém ainda uma implicação menos óbvia e mais arriscada. Pois supõe que as imagens são diretamente absorvidas pelos espectadores e que cada imagem é imediatamente legível e significativa em si mesma a partir e a partir de si mesma, independentemente do seu contexto ou das circunstâncias da sua produção, circulação e recepção. Referindo-se ao caso brasileiro, que participa de uma tendência bastante forte, ao menos no Ocidente, a cineasta Lúcia Murat responde por que as mulheres não faziam tanto cinema antes da Retomada: Da mesma forma como quando eu entrei na faculdade e na minha turma, de cem pessoas, havia três mulheres. As mulheres não tinham a participação no chamado mundo masculino como têm hoje. A diferença está no cinema como está em todas as outras áreas. Uma das conseqüências deste fenômeno é “o fato de o foco nas imagens ‘positivas’ da mulher ser agora uma outra fórmula, tanto na crítica quanto na produção cinematográfica, é uma medida da legitimação social de um determinado discurso feminista e a conseqüente viabilidade de sua exploração comercial e ideológica” (LAURETIS, 2003:51). É dentro dos marcos do panorama acima esboçado que será desenvolvida a investigação aqui proposta. Partindo do pré-suposto corroborado pelos estudos feministas do audiovisual de que, ainda hoje, a representação das mulheres nas pequenas e grandes telas em geral compartilha muitas características identificadas e criticadas em 1970, interessa verificar como isso paulatinamente vem sendo alterado na produção latino-americana contemporânea. Para tanto, foram escolhidas três obras que privilegiam mulheres como protagonistas em um mesmo território – a prisão: o documentário brasileiro O Cárcere e a Rua (Liliana Sulzbach, Brasil, 2005), a co-produção ficcional Leonera (Pablo Trapero, Argentina/Brasil/Coréia do Sul, 2008) e a primeira temporada da série televisiva chilena Carcel de Mujeres (2007). Considera-se que a aproximação temática, assim como o fato de se trabalhar com diretores/as e com modos tão distintos de produção como são cinema e TV, favorecerão o alcance do estudo, o qual, embora não pretenda chegar a nenhum resultado generalizante ou generalizável, tem por objetivo principal identificar novos e velhos padrões na construção das personagens femininas, assim como de temas a elas associados: maternidade, sensibilidade, solidariedade... Por fim, é necessário enfatizar que as análises que serão empreendidas filiam-se ao que se convencionou chamar de feminismo latinoamericano e que, segundo Femenías, utiliza “la intersección sexo-etnia-clase como clave teórica” (2007:22-23). |
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Bibliografia | ADELMAN, Miriam. Vozes, olhares e gênero no cinema. Cadernos de pesquisa e debate do Núcleo de Estudo de Gênero da UFPR, Curitiba, n. 2, p. 80-109, dez 2003.
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