ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O jazz como forma em Kansas City, de Robert Altman |
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Autor | Elder Koei Itikawa Tanaka |
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Resumo Expandido | Em determinada cena de Kansas City, o gangster Seldom Seen circula, numa sala reservada do Hey-Hey Club, entre seus capangas e Johnny O'Hara, o assaltante branco que se fingiu negro para praticar seus crimes. Johnny cometera o erro de assaltar um grande cliente do gangster e, assim como em boa parte do filme, Seldom Seen reflete sobre o que fazer com seu prisioneiro. Ouve-se ao fundo o som de um piano. Entre baforadas do seu charuto, Seldom dirige-se a Johnny e pergunta-lhe: "Diga-me, alguma vez na vida você já foi maltratado? Então, como você sabe o que é sentir-se bem? Neste momento você deveria estar se sentindo ótimo, mas não está. Ouça essa música. Isso é Bill Basie. Ele é parte da razão de você ainda não estar morto".
O piano de Count Basie, assim como o saxofone de Coleman Hawkings, Lester Young e todos os outros músicos da banda de jazz do Hey-Hey Club não são somente uma fonte de prazer para Seldom Seen, como também fazem parte do princípio organizador do filme de Robert Altman, cujas obras freqüentemente possuem uma estrutura narrativa fragmentada que acaba envolvendo a música de alguma forma. Foi assim com Nashville, no qual a country music estava presente em todos os aspectos do enredo, e com Short Cuts, no qual a música - jazz ou erudita - era parte fundamental no núcleo que envolvia as personagens Zoe e Tess. Com Kansas City, no entanto, Altman buscava um outro tipo de abordagem, fazendo do filme em si um tipo de improvisação jazzística. Com essa premissa, Altman criou um filme que mostra ao espectador de que maneira é possível montar um levantamento do quadro político, econômico e social da cidade de Kansas City na década de 1930, usando o jazz como argamassa dessa construção. O que motiva nossa pesquisa é a hipótese de que, além de nos contar uma história, Robert Altman tenta nos mostrar, por meio de seu filme, como a experiência estética (jazz e o próprio cinema) é capaz de sobreviver num ambiente dominado pelo crime organizado (gangsterismo) e pela truculência da esquerda norte-americana no período da Depressão. |
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Bibliografia | ADORNO, T. "O fetichismo na música e a regressão da audição". In: Theodore W. Adorno - Textos Escolhidos. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1999.
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