ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | As fronteiras da representação - Imagens periféricas no cinema francês contemporâneo |
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Autor | Catarina Andrade |
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Resumo Expandido | Este trabalho pretende investigar a presença e as representações dos grupos socialmente marginalizados, excluídos da cultura dominante, no cinema francês contemporâneo, e avaliar as diferentes formas de representação desse “outro”. Hoje, pensar o contemporâneo, ou qualquer produção artística que dele faça parte, exige sempre uma tentativa de entender as transformações sociais, políticas, culturais e estéticas que vivenciamos. Observar o mundo de forma bipolar já não é suficiente para se compreender e analisar a complexa conjuntura contemporânea assinalada pelas sociedades multiculturais, pelos sujeitos diaspóricos, pela diluição das fronteiras etc. É a partir do processo diaspórico, essencialmente pós-colonial, que surge um novo sujeito, pós-moderno, que busca, nesse solo movediço que é a contemporaneidade, uma identidade cultural e ainda é obrigado a negociar com novas culturas, a adaptar suas identidades a novas realidades.
É evidente que, se as sociedades se transformam, os seus agentes (os sujeitos) também se transformarão e passarão a estabelecer novas relações uns com os outros, tão complexas quanto o próprio lugar em que vivem. Além disso, a facilidade e/ou a necessidade de deslocar-se contribuem fortemente para a formação de comunidades multiculturais, multirraciais, sincréticas e, portanto, de sujeitos híbridos, expostos a diferentes culturas, pátrias, hábitos alimentares, religiões. Essas mudanças do sujeito são ainda mais evidentes nas grandes metrópoles como São Paulo, Paris, Londres, Nova Yorque, Cidade do México, por uma questão de visibilidade, por serem cidades maiores e mais complexas, e proporcionarem confrontos bem mais expressivos. A globalização, a comunicação, a velocidade com a qual trafegam informações e pessoas ajudaram a agravar um fato não tão recente. As periferias se multiplicaram e os choques entre classes tornaram-se ainda mais numerosos e patentes. Essas periferias “cosmopolitas”, multirraciais, híbridas têm sido foco de reportagens, em impressos e na televisão, de obras literárias e cinematográficas. Dessa forma, decidi tomar o cinema francês contemporâneo como base dessas reflexões, por acreditar que a produção abordando as camadas subalternas aumentou consideravelmente na França nas duas últimas décadas, resultando em expressivos filmes como O Ódio (Mathieu Kassovitz, 1995), A cidade está tranqüila (Robert Guédiguian, 2000), A Esquiva (Abdellatif Kechiche, 2004), A pequena Jerusalém (Karin Albou, 2005), Dias de Glória (Rachid Bouchareb, 2006), O Segredo do Grão (Abdellatif Kechiche, 2007). Esses filmes possuem algumas características em comum que não devem ser ignoradas como a violência, o preconceito e o racismo, por exemplo. Além das características temáticas é necessário relevar as “vozes” que esses filmes trazem ao público. Muitos dos cineastas envolvidos com esses temas têm uma relação próxima com as realidades periféricas, e, em geral, pertencem a mais de uma etnia. Por isso, a história pessoal de cada um merece atenção e cabe ser considerada como parte integrante dos filmes. Além disso, são filmes que atingiram uma considerável visibilidade participando de grandes festivais como Cannes, César, Oscar, conquistando, assim, um espaço no âmbito do cinema mundial. Classificá-los não é fácil. Não são propriamente terceiro-mundistas, pois são produzidos também por países de primeiro mundo, mas, de fato, não são filmes feitos inteiramente nos moldes das grandes produções. Nessas obras, o multiculturalismo se apresenta como uma moeda de duas faces: de um lado ele nos permite o acesso a várias culturas, rompendo com as fronteiras nacionais; do outro nos lança os desafios e as conseqüências desse acesso que, por causa da nossa intolerância em relação ao que não é nosso “espelho”, não somos capazes de estabelecer estratégias novas e eficazes de convivência, gerando ainda mais crises e elevando a problemática da identidade na pós-modernidade ao primeiro lugar na fila dos debates urgentes. |
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Bibliografia | BEN JELLOUN, Tahar. O racismo explicado à minha filha. Trad. Mônica Seincman. São Paulo, Via Lettera, 2000.
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