ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O doar-se do Ser e Tempo em Lavoura Arcaica |
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Autor | Kátia Carvalho da Silva |
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Resumo Expandido | No filme Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho, homônima adaptação do romance de Raduan Nassar, fica notório o destaque dado, ao longo da obra, à operante articulação do tempo sobre todos os entes.
Contudo não se pretende, nesta proposta de trabalho, investigar a soberania do tempo sobre todas as coisas. Pois, assim, a proposição da questão estando relacionada ao âmbito das coisas, mover-se-ia tão-somente na dimensão do ente. Com isso, tal especulação, mais uma vez, confirmaria o esquecimento do ser no que lhe é próprio, bem como o próprio tempo, o qual, aliás, se articula como dimensão essencial do ser. Portanto, no dialogar com a obra posta em questão, deseja-se interrogar, pondo-se no âmbito do ser, a fim de se escutar como o tempo se elabora no ser das coisas. Pois a questão, a saber, é: como se dá ser e se dá tempo na obra cinematográfica Lavoura Arcaica? Lavoura Arcaica narra a intricada trajetória da personagem André, pondo em destaque sua paixão incestuosa pela irmã, Ana, e ainda a conflituosa relação que mantém com seu pai, homem severo que tem a família sob um rígido código de conduta e preservação, a todo custo, do patrimônio moral e cultural, oriundo de seus ancestrais. Entretanto, muito mais que isso a adaptação cinematográfica, assim como o romance homônimo, traz através da sua urdira poética, um falar profundo da condição originária de todas as coisas. Revelando como o ser e o tempo residem despercebidos nas paredes carcomidas, nos rústicos móveis, no pão amassado de todos os dias, na fala ríspida que se faz ecoar pelos cômodos da velha casa e, principalmente, no humano ficcionalizado na obra. Por isso, em meio às inúmeras oportunidades nas quais é possível vislumbrar este entrelaçar do ser e do tempo no filme em estudo, e ao mesmo tempo, sabendo que diversas ocorrências poderiam ser usadas para se elaborar o diálogo pretendido, busca-se pôr em relevo, neste trabalho, a seqüência que contempla o encontro amoroso das personagens André e Ana. Esta escolha deve-se ao fato de, neste momento, o filme se aproximar da autêntica dimensão de ser e tempo, principalmente no que diz respeito a possibilidade de se entrever, através da imagem e dos recursos cinematográficos, o que vem a se intitular de Ereigns. Pois, esta eclosão epifânica, o acontecimento-apropriante, que determina a ambos, ser e tempo, o lugar que lhes é próprio, segundo Heidegger, é negligenciada pelo homem, dado que o presentar de tudo sempre aborda o homem, sem que ele atente propriamente nisto ao presentar como tal (Heidegger, 1999, p.264). Levando em conta isso, acredita-se que a arte, verdadeiramente, seja a salvação para resgatar o homem da cegueira na qual mergulhou, sendo este o motivo provocador desta proposta: pensar de forma mais originária o poético. |
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Bibliografia | HEIDEGGER, Martim. Tempo e Ser. In: Coleção Os pensadores: Heidegger, São Paulo, Editora Nova Cultural, 1999, p. 257-271.
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