ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A Sociabilidade e o Cinema: o caso indiano |
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Autor | Raquel Valadares de Campos |
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Resumo Expandido | Enquanto passávamos dos Nickelodeons aos cinemas per se, enterrando o cinema de atrações e o comportamento típico dessa ocasião social — muitas interjeições, conversas, risos e entra-e-sai nos salões, circos e cafés —, a Índia foi erguendo salas e preservando uma forma de visionamento participativo assim, similiar. A estética e a linguagem do cinema popular indiano falado em hindi firmaram-se compatíveis a essa experiência cinematográfica, empregando elementos cognitivos e técnicas singulares.
O indiano, através da experiência total de vida, tem habilidades apropriadas (cf. Geertz, 1999, p 156). que lhe proporcionam a decodificação dos elementos pictóricos empregados nos filmes e nas artes em geral. Estes são os habitués de Srinivas (1998). Esta é a capacidade desprezada na análise do cinema indiano pela critica ocidentalizada. As salas de projeção desses filmes, em correspondência, resultam num ambiente de sociabilidade participativa, de grande interação social. O engajamento do indivíduo na situação social geral de um cinema Zarzuela só pode seguir o comportamento de uma grande celebração social. Como se fosse necessária a comunicação entre os espectadores para que se criasse um significado do filme, semelhante ao que ocorria nos primórdios, quando os rolos desconexos se exibiam nos circos, salões de variedades e cafés. Os espectadores indianos entram nos cinemas dispostos a criar coletivamente significado para as imagens ali projetadas. Aliás, predispõem-se à ocasião social cientes do engajamento, participativo, que lhes será exigido. As interpretações, avaliações e comentários — tipos de conversa observados por Lígia Dabul (1998) nas exposições de artes plásticas — e as interjeições compõem o quadro da sociabilidade dessa venue.. Destacar os filmes indianos de seu local de produção e fruição, e analisá-los segundo os padrões críticos que nos instrumentalizam, resulta na sua completa descaracterização. Qualquer discussão estética, formal e de significado desse cinema escapará ao rigor necessário ao seu verdadeiro entendimento. Para Clifford Geertz, em “O Saber Local (1999)”, a discussão sobre arte deve ser levada à esfera da vida social e não das relações formais; A arte se dá na interação, no contato da obra com o público. A experiência artística é, portanto, situacional e seu significado é uso, ou, melhor, surge graças ao uso. A arena do uso dos filmes, do contato do espectador com a obra cinematográfica, representa-se na sala de cinema, em qualquer das suas modalidades, desde uma televisão armada no pátio para os membros de um vilarejo (caso de Nurapur), quanto em uma das salas Multiplex de um shopping center em Mumbai. Na Índia, como já foi dito, a sala do cinema proporciona uma experiência artística singular e coletiva determinante para a configuração da linguagem cinematográfica local. |
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Bibliografia | DABUL, Ligia. Conversas em Exposição: sentidos da arte em contato com ela. Em Arte & Ensaios. Revista de Pós-Graduação em Artes Visuais EBA/UFRJ. Nº 16. 2008.
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