ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O homem com uma câmera (digital) |
|
Autor | Gabriel Gesualdi Malinowski |
|
Resumo Expandido | Corroborando ou incrementando aquilo que Guy Debord nomeou como sociedade do espetáculo, as chamadas imagens amadoras ou caseiras, produzidas por aparelhos portáteis, como câmeras digitais e telefones celulares, vêm mediando uma série de novas relações sociais entre pessoas na contemporaneidade. De modo geral, nos discursos mais diversos, diz-se que essas imagens suscitam um ar de flagrante, de autêntico e de precariedade. Também que refletem e reproduzem uma temporalidade ubíqua e supostamente universal. De fato, sendo produzidas numa época em que câmeras de vigilância – esse olho cego da visão maquínica – nos capturam em espaços públicos e privados, tais imagens parecem revelar um imediato, um fugaz, um eterno presente de uma vontade de registro: desde vídeos íntimos, que reportam aniversários, casamentos, shows até aqueles que ganham notoriedade, como os vídeos da morte de Saddam Hussein, da cena de Daniela Cicarelli na praia e da tragédia em Virginia Tech.
Contudo, afim de não mistificarmos demais tais imagens, pretendemos aproximá-las, em um primeiro momento, de dois movimentos cinematográficos recentes. Trata-se do Dogma 95 e do Mumblecore. Através de uma breve contextualização dos movimentos, tentaremos notar como eles já carregam traços técnicos, culturais e estéticos bem próximos ou próprios desses vídeos caseiros ou amadores. Em seguida, ancorados por essas aproximações, serão propostas algumas perspectivas que vêm tomando forma nas últimas décadas. Para tal, retomaremos duas reflexões propostas pelo filósofo Gilles Deleuze entre o final da década de 80 e início de 90: o texto Otimismo, pessimismo e viagem, de 1986 e o brevíssimo e instigante ensaio Post-scriptum sobre as sociedades de controle, de 1990. Nosso intento será pensar, sob o respaldo dessas expressões audiovisuais, certo predicado estético-subjetivo que perpassa os modos de ser e de ver na atualidade. Trata-se de uma suspeição de que os processos de conformação do estatuto da imagem, ao longo de períodos históricos, são atravessados por modos de percepção, ou ainda, por certo estado de coisas. Tais imagens seriam reflexos de um sujeito contemporâneo, de um modelo de observador, que é transpassado por certas modulações sociais, econômicas e tecnológicas. O rico trabalho do historiador de arte Jonathan Crary, em Techniques of the Observer, nos serve aqui de inspiração metodológica. Crary desenvolve nessa obra uma espécie de genealogia da visão, principalmente no que ele irá chamar de a modernização da percepção no século XIX. Para tal, modelos epistemológicos, tecnologias e práticas sociais são postos em diálogo. Com isso, o autor evidencia como determinadas teorias, obras ou máquinas devem ser tidas como efeitos e instrumentos dessas “adjacências históricas” que as perpassam. A visão e seus efeitos não estariam separados das possibilidades do observador, o qual é, ao mesmo tempo, produto histórico e centro de certas práticas, técnicas, instituições e processos de subjetivação. |
|
Bibliografia | BENJAMIN, W. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” In Mágica e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1994
|