ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O Nordestern. Ou quando o nordeste brasileiro encontra o oeste americano |
|
Autor | Marcelo Dídimo Souza Vieira |
|
Resumo Expandido | O cangaço passou a ser bastante explorado no cinema brasileiro a partir da década de 60, mas foi na década anterior que esta temática fez surgir um gênero tipicamente brasileiro. O Cangaceiro, (Lima Barreto, 1953) “inaugura o ciclo e delineia os principais traços que ficarão caracterizando o cangaceiro no cinema comercial.” (BERNARDET, 1977, p. 46) Dessa forma, os conhecidos filmes de cangaço têm seu marco inicial no filme de Lima Barreto, filme este cuja estrutura narrativa será revisitada diversas vezes no cenário cinematográfico brasileiro e que também ficou conhecido como Nordestern.
A violência, o cavalo, os grandes descampados e a falta de tradição cinematográfica no Brasil: mais nada era preciso para transformar em filial do western norte-americano o filme de cangaceiro, que Salvyano Cavalcanti de Paiva chama de Nordestern. (BERNARDET, 1977, pp. 46-47) O neologismo Nordestern é uma referência direta ao western clássico que muito influenciou os filmes de cangaço a partir dos anos 50. Nesse sentido, o cangaço passou a ser um gênero com características estruturais comuns, criando uma vertente nacionalista com referências diretas ao gênero norte-americano. Este último tem como tema as “histórias” da conquista do oeste que se deu, basicamente, entre as décadas de 1840 e 1890. Contrariamente ao que acontece com as “histórias” do cangaço que ficaram confinadas ao Nordeste brasileiro, as “histórias” que inspiraram os westerns aconteceram em várias regiões, como parte do Norte, do Sul e do meio Oeste, além do Oeste, claro. Nesse período, vários nomes passaram a fazer parte da história do western e figuras como Billy the Kid, Wild Bill Hickok, Wyatt Earp e os irmãos Frank e Jesse James tornaram-se lendas no imaginário popular norte-americano. Em contrapartida, o cangaço foi um movimento que se concentrou na região Nordeste do Brasil e ocorreu durante um período mais recente de nossa história, entre os anos de 1870 e 1940. Antônio Silvino, Jesuíno Brilhante, Lampião, Corisco, Maria Bonita e Dadá, entre outros, foram cangaceiros conhecidos que se tornaram mitos para a população nordestina e bandidos famosos que passaram a povoar o imaginário de todos os brasileiros. O gênero norte-americano ficou bastante popular nos Estados Unidos a partir dos anos 1920, e consagrou-se no resto do mundo nas décadas de 1940 e 1950. O western e o cangaço possuem traços bastante comuns e algumas particularidades que diferenciam um do outro. “O traço definidor do gênero é o conflito elementar entre civilização e selvageria.” (MATTOS, 2004, pp. 17-18) Esse conflito faz parte de ambos, obviamente que cada um a seu modo, com características peculiares relacionadas à própria história local. Já o cinema brasileiro passou a retratar o cangaço em seus filmes a partir da década de 1950 com um referencial incrustado em sua memória, o western. O cangaço, apesar de ter suas primeiras aparições cinematográficas datadas dos anos 1920, somente foi solidificar-se como gênero quando o western já estava difundido e conhecido no mundo inteiro. São mais de 20 filmes que possuem uma estrutura narrativa semelhante, com características similares no que concerne ao desenvolvimento dos personagens ou das histórias relacionadas a eles. O cangaço foi trabalhado em várias vertentes, às vezes como simples referência ou como inspiração para reconstituições históricas. Além do clássico de Lima Barreto, também é possível citar: A Morte Comanda o Cangaço (Carlos Coimbra, 1960); Lampião, o Rei do Cangaço (Carlos Coimbra, 1962); Riacho do Sangue (Fernando de Barros, 1966); O Cangaceiro Sanguinário (Osvaldo de Oliveira, 1969); Quelé do Pajeú (Anselmo Duarte, 1969); Faustão (Eduardo Coutinho, 1971); O Cangaceiro do Diabo (Tião Valadares, 1980). |
|
Bibliografia | ABREU, Nuno César. Boca do Lixo: cinema e classes populares. Campinas: Editora da Unicamp. 2006.
|