ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Transnacionalidade e Transicionalidade em Um Passaporte Húngaro |
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Autor | Natalia Pinazza |
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Resumo Expandido | O presente trabalho pretende analisar o documentário de Sandra Kogut, intitulado Um Passaporte Húngaro (2001), dentro da concepção de ‘cinema com sotaque’ (accented cinema), conforme perspectiva teórica de Hamid Naficy. Com o intuito de entendimento da referida obra cinematográfica como um ‘filme com sotaque’, o estudo constará do exame das principais características que o documentário de Kogut compartilha com outros ‘filmes com sotaque’, tais como: temas de viagem e nomadismo; noções de hibridismo; representações de espaços e lugares transicionais e transnacionais; determinadas abordagens estilísticas; a questão do autor e estética. Para Naficy o ‘cinema com sotaque’ compreende o trabalho de cineastas imigrantes e exilados, cuja origem é, geralmente, de países sub-desenvolvidos e que, agora, em um contexto de globalização e pós-colonialismo, gozam de investimentos internacionais assim como de audiências acolhedoras em festivais de cinema nos Estados Unidos e Europa. Esse ´cinema com sotaque´ não só é marcado pelo sotaque estrangeiro do ´cineasta desenraizado´ (displaced filmmakers) e pelas ambiguidades e ambivalências decorrentes de ‘efeitos de fronteira’ (border effects), nos termos de Naficy, mas também por práticas transnacionais que estão aumentando e transformando a natureza da prática do cinema.
Dado o processo de internacionalização, co-produções constituem uma forma de fazer filmes que é, simultaneamente, local e global, colocando em questão a nacionalidade de ambos: cineasta e filme. O documentário, uma co-produção envolvendo Brasil, França, Bélgica e Hungria, mostra a tentativa de Kogut de adquirir uma nova forma de identitidade, simbolizada pelo passaporte húngaro, abordando dicotomias, tais como: privado e público; individual e coletivo; nacional e global. A narrativa do filme começa quando a cineasta embarca em uma jornada para adquirir o passaporte húngaro. Dessa maneira, o filme documenta os efeitos de sua própria produção, revelando o caráter auto-reflexivo da narrativa. Além disso, as experiências da cineasta, durante a produção do filme, também são marcadas por uma multiplicidade de nacionalidades, línguas e sotaques, enfatizando, assim, as identidades múltiplas e a transnacionalidade do próprio cinema contemporâneo. A jornada da cineasta não é linear nem homogênea já que inclui questionamentos, nomadismo e procura, assim como envolve uma outra jornada marcada por diáspora e exílio: aquela de seus avós judeus que escaparam para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Embora considerado por Naficy umas das ramificações do ‘Terceiro Cinema’ com o qual compatilha certos atributos, o ‘cinema com sotaque’ prioriza ‘lutas’ discursivas e semióticas que abordam experiências de ‘desterritorialização’ (deterritorialization) enquanto que um dos principais focos do Terceiro Cinema é a lutas de classes. Dessa maneira, no cinema com sotaque, alegorias de exílio e diáspora são priorizadas em detrimento de alegorias nacionais totalitárias, oferecendo um outro tipo de engajamento político e social. Nesta perspectiva, meu argumento é que o documentário aborda etnias, nacionalidades, identidades e indivíduos específicos, construindo, desse modo, uma história que ao mesmo tempo que pertence a um indíviduo, Sandra Kogut, não deixa de ser pública e coletiva dado que a narrativa do filme é permeada por experiências de diáspora e exílio. Portanto, a suposição básica de que parte esta análise é que o filme Um Passaporte Húngaro é político, crítico, híbrido e produto de uma indústria de cultura globalizada e, por isso, pode ser considerado um exemplo de cinema com sotaque, nos termos de Naficy. Tal argumentação poderá oferecer novas perspectivas e uma producente interpretação do filme. |
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Bibliografia | BALTAR, Mariana. Engajamento Afetivo como Marca de Autenticidade: As Performances de Memória em Um Passaporte Húngaro. Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Fotografia, cinema e vídeo”, do XVI Encontro da Compós, UTP, Curitiba/PR, junho/2007.
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