ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O projeto estético-político de Ken Loach: resgate de formas e conteúdos utópicos |
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Autor | Cristiane Toledo Maria |
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Resumo Expandido | Ao contrário do que a crítica costuma apontar, os filmes de Ken Loach não são simplesmente ‘dramas que tratam de temas políticos’. Sua obra vai além da simples questão da contradição forma-conteúdo, e apesar de ter características relacionadas ao estilo dramático, não é o Drama sua base estruturante.
Mas se Loach não faz ‘dramas’, o que ele faz? A idéia que propomos aqui é de que existe um projeto estético-político presente em sua carreira cinematográfica, de tentativa de criação de uma nova forma que seja suficiente para alcançar o que Brecht chamaria de verdadeiro Realismo (alcançando um conteúdo de verdade que representaria autenticamente a luta de classes). A novidade da forma de Ken Loach seria o fato de ele usar diversas tendências estéticas que formaram a tradição do teatro e do cinema nos últimos dois séculos, dentre elas o melodrama, o naturalismo, o neo-realismo italiano, e o gênero documentário. Assim, Ken Loach não faz ‘Dramas’, assim como não faz um cinema ‘naturalista’ ou ‘neo-realista’. Nenhuma destas classificações é suficiente porque elas existem em sua obra não como formas propriamente ditas, mas como materiais constitutivos. Além disso, o processo dialético de Ken Loach não consiste apenas numa escolha aleatória destes materiais, mas numa seleção que envolveria razões políticas. É importante, para tanto, compreender a origem de cada um destes materiais utilizados, e suas relações políticas com seus respectivos momentos históricos, que fizeram com que eles, enquanto formas, tivessem um potencial revolucionário (potencial infelizmente perdido ao longo dos anos por serem, em muitos casos, formas cooptadas pela indústria cultural, ou mesmo por carregarem dentro de si limitações de ordem estética e/ou ideológica). Cremos, portanto, que o projeto de Ken Loach é o de resgatar e refuncionalizar estas formas que, apesar de derrotadas, carregam consigo um potencial utópico, colocando-as dentro de um novo contexto e trazendo-as como materiais constitutivos da batalha pela conquista de um novo modo de produção. Neste ponto seu projeto é muito semelhante à teoria da história de Walter Benjamin, e ao papel do intelectual de “redescobrir os momentos utópicos ou subversivos escondidos na ‘herança’ cultural”. Assim, se estas diferentes formas foram neutralizadas pelo Capital, o projeto de Ken Loach visa resgatar o potencial delas, através de um processo dialético de apropriação, oposição e síntese dos materiais constitutivos de sua nova forma. Ao invés de ignorar estas tendências e seguir adiante, procurando uma forma nova no sentido mais comum do termo e simplesmente negando a existência de uma tradição formal no cinema e no teatro, ou então usar sem critérios fórmulas prontas do receituário que se costuma fazer em cima dos avanços propostos pelo teatro épico, a obra de Ken Loach vê a história da arte como um campo de batalha, onde o Passado é um local privilegiado de busca de experiências que podem – e devem – ser trazidas para o Presente, sempre com o intuito da práxis política. Mais uma vez semelhante ao projeto de Benjamin, a obra de Loach anda na contramão da ideologia do progresso, que nada mais é do que um avanço das forças produtivas sem mudanças nas relações sociais. Esteticamente falando, Loach está no caminho inverso de seus contemporâneos, em especial o Cinema de Arte Europeu, que tem como principal característica o uso indiscriminado das técnicas épicas por puro avanço formal, sem ter um engajamento real na luta pelos meios de produção. Nossa intenção, portanto, é verificar qual é o eventual ‘potencial utópico secreto’ de cada uma das ‘formas’ utilizadas por Ken Loach, para depois compreender o resultado final da relação que se estabelece entre elas e, finalmente, entre a nova forma e os conteúdos de crise propostos nos filmes. |
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Bibliografia | BARRENTO, J.(org.) Realismo, materialismo, utopia: uma polêmica (1935-1940). Lisboa,: Moraes Editores, 1978
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