ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O pensamento industrial dos produtores do cinema brasileiro contemporâneo |
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Autor | Arthur Autran Franco de Sá Neto |
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Resumo Expandido | É notável na historiografia do cinema brasileiro bem como nas análises sobre os problemas contemporâneos da nossa produção o silêncio em torno de uma das figuras centrais no processo de realização: o produtor. Este silêncio é resultado de vários fatores, dos quais destacamos: a) o nítido desprezo nutrido por autores como Alex Viany e Glauber Rocha por esta função, especialmente quando contraposta à do diretor, este último no mais das vezes considerado uma vítima ou um herói; b) a atrofia do papel do produtor no quadro do cinema brasileiro a partir dos anos 1970 em decorrência da política da Embrafilme, pois a empresa estatal tendeu a privilegiar projetos nos quais o diretor acumulava a produção ou em que o produtor estava totalmente atrelado ao realizador; c) uma leitura do “cinema de autor” segundo a qual o filme resulta unicamente do iluminado diretor e não da somatória de várias contribuições; d) a atual política cinematográfica baseada nas leis de incentivo que na prática não objetiva industrializar a produção, mas tão somente mantê-la na dependência do Estado.
Poucos produtores assumiram ao longo dos anos 1970 e 1980 um papel de relevo nas lutas do campo cinematográfico, uma das exceções notórias é a de Luiz Carlos Barreto. Ademais, para além de alguns pouquíssimos depoimentos como o volume de memórias escrito por Mário Audrá Jr. intitulado Cinematográfica Maristela – Memórias de um produtor ou de documentários como O Galante, rei da Boca (Alessandro Gamo e Luis Alberto Rocha Melo, 2003) – que enfoca a atividade de Antônio Pólo Galante –; quase não há análise sobre o pensamento e a ação dos produtores brasileiros. Nomes como Franco Zampari, Mario Civelli, Oswaldo Massaini ou mesmo Luiz Carlos Barreto, entre muitos outros, estão a exigir trabalhos historiográficos consistentes. O escopo da nossa proposta de comunicação para a Socine relaciona-se com o cinema brasileiro contemporâneo, ou seja, aquele produzido a partir de meados dos anos 1990 até este momento. A proposta diz respeito ao mapeamento das linhas gerais do pensamento industrial cinematográfico de alguns dos produtores que, ao nosso ver, vêm nos últimos anos fazendo com que tal função ressurja em uma dimensão ampliada no campo cinematográfico. Exemplos de tais produtores são, entre outros, Diler Trindade, os irmãos Gullane, Nora Goulart, Paulo Sacramento, Rita Buzzar e Sara Silveira. Interessa-nos perscrutar como e por quais motivos a função do produtor tem conseguido se reconfigurar no quadro do cinema brasileiro dos últimos quinze anos, no que pese a enorme dependência da produção nacional para com os recursos públicos e a falta de políticas efetivas que visem o avanço no mercado. Afigura-se que apesar de a Lei do Audiovisual não ter sido capaz de estruturar a produção em bases econômicas sólidas; contradições, ambigüidades e problemas levantados a partir da sua vigência são de tal complexidade que levaram a um renascimento da importância do produtor. Entre as questões que se constituem como principais para nossa comunicação podemos destacar: o modo como cada produtor se relaciona com a equipe do filme – em especial o diretor –, a composição do capital empregado no filme em termos de origem – leis de incentivo, co-produção internacional, investimento de capital próprio, etc. –, a relação com o Estado, os contatos com distribuidores e exibidores, a importância dos mercados de DVD e de televisão, a inserção na política cinematográfica, etc. Para a pesquisa em pauta foram feitas entrevistas com produtores – em co-realização com Jean-Claude Bernardet –; levantados materiais primários tais como textos, entrevistas e depoimentos de produtores publicados na imprensa em geral; análise de outras pesquisas do mesmo tipo realizadas na França; e leitura de bibliografia secundária sobre questões relativas ao mercado cinematográfico brasileiro e às relações entre cinema e Estado. |
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Bibliografia | AUDRÁ JR., Mário. Cinematográfica Maristela - Memórias de um produtor. São Paulo: Silver Hawk, 1997.
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