ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Do Cogito ao Inconsciente: o corpo na experiência cinematográfica |
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Autor | JOSE CLAUDIO S CASTANHEIRA |
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Resumo Expandido | Este trabalho tem como objetivo apresentar o cinema como uma experiência corporificada. Dentre as várias diferentes concepções de como o corpo participa da experiência cinematográfica, procuro relacionar o engajamento proposto pela fenomenologia existencialista de Merleau-Ponty entre uma subjetividade corporificada e uma condição objetiva de participar do mundo com a relação dialógica e dialética entre o filme e o espectador proposta por Vivian Sobchack. Por fim, apresento uma comparação entre essas perspectivas e aquelas apresentadas pela neurociência, quanto aos aspectos cognitivos, e pela Teoria das Materialidades, quanto à constituição de um campo não-hermenêutico.
O cinema tem sido considerado pelas teorias tradicionais como uma arte própria da visão. Talvez em um primeiro momento, quando da curiosidade pela novidade que levava platéias a se deslumbrar com a reconstituição do movimento enquanto movimento, poderíamos falar de uma atenção, talvez ingênua, a características puramente sensoriais da experiência. O corpo fantasmático causava espanto e não havia ainda uma competência por parte do espectador para uma atração de caráter ilusionista que, pouco a pouco ia se configurando como linguagem. Na verdade, a própria figura do espectador foi algo que precisou de tempo para se constituir. O cinema clássico-narrativo, consolidação hegemônica de uma natureza textual da nova forma de expressão, ainda domina nossas acepções mais imediatas do que é o cinema. Enquanto estruturava-se formalmente, o cinema, ou a idéia que se fazia dele, foi, aos poucos, abandonando uma referência mais explícita ao engajamento físico do espectador com a matéria-filme. Mesmo modelos alternativos ao padrão estabelecido pelo tradicional cinema norte-americano pautavam-se por um caráter interpretativo, diferente do tradicional, mais ainda assim interpretativo. Hibridações do cinema com o campo das artes plásticas e suas imbricações com movimentos vanguardistas deram origem a novos conceitos e formas, nem sempre bem-sucedidas, de interação com a imagem, tentando recuperar, de uma maneira menos hermenêutica, o sentido presente nas materialidades do filme. Walter Benjamin já apontava, nas primeiras décadas do século XX, para uma relação entre a descontinuidade espaço-temporal do cinema e o excesso de estímulos sensoriais que envolviam o homem urbano. Quero acreditar que, atualmente, as novas tecnologias, por mais que se propalem suas vicissitudes descorporificantes, ao contrário, pedem mais ao corpo. Elementos como telas gigantescas, a espacialização do som, a maior fidelidade na reprodução de freqüências sonoras e um aumento no impacto que essas imagens e sons passaram a ter no público, ou mesmo os efeitos especiais, com seu início na década de 70, são um prenúncio das exigências que toda uma série de aparatos eletrônicos e digitais faz sobre nossas sensorialidades hoje em dia. Sendo assim, pretendo sugerir uma possível transição de uma relação entre corpo e mundo baseada em uma idealização que separa um do outro para uma indissolubilidade das duas esferas. O mundo não se apresenta senão através dos sentidos e o filme, igualmente, não existe fora do âmbito sensorial. |
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Bibliografia | CARMAN, Taylor. “The body in Husserl and Merleau-Ponty.” In: Philosophical Topics. Vol 27, nº 2. Fayetteville: The University of Arkansas Press, 1999.
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