ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A bioestética em House ou o monitoramento da vida, do crime e da doença na era da sua visualidade |
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Autor | Ivana Bentes |
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Resumo Expandido | As séries médicas e programas de entretenimento baseados no discurso científico e na expertise (medicina forense, criminologia, sexualidade, sociabilidade, rotinas carcerárias, procedimentos ultra especializados nos mais distintos campos da ciência) vem sendo cada vez mais discutidos no espaço público midiático e também apropriados pelo senso comum.
Da mesma forma que podemos falar hoje de uma mudança de posição do espectador, usuário, público tornado “prossumidor” e interator no contexto pós-midiático, ao tomar para si as funções das corporações e especialistas da informação, encontramos uma dinâmica similar com a popularização da informação científica (e da criminologia), com a disseminação dos gadgets tecnológicos de auto-monitoramento e controle do corpo e da psique, que fazem do paciente um “médico virtual”, da vítima um investigador policial, do criminoso um advogado e juiz potencial (como na série televisiva OZ sobre um complexo carcerário), deslocando ou colocando em xeque os discursos de autoridade tradicionais. Mas se a discussão amplificada pela mídia desses procedimentos médicos, policiais, da criminologia, no espaço público aponta para esse outro estatuto de consumidores, pacientes, vítimas, portadores, tornados produtores/gestores da informação, da doença, da saúde, do crime, da vida, vemos também a emergência de diferentes formas de autoridade nesses campos, mutações na subjetividade contemporânea e a emergência do que poderíamos chamar de uma bioestética. O limiar de experimentação do bios e da vida que parece apontar para dinâmicas sociais pós-disciplinares e inventar formas de vida e estéticas transitórias, entre os poderes disciplinares e a biopolítica. No campo da análise audiovisual escolhemos a série médica House MD, para problematizar a emergência de bioestéticas que buscam uma tradução visual/vital/expressiva dos dramas dos corpos e da psique tornados signos , sinais, imagens. Tentativas de expressão desses limiares entre uma cultura pós-disciplinar e as formas tradicionais do poder? O que nos interessa na série medica House M.D. é como seus episódios parecem expressar as questões trazidos por Michel Foucault em seu estudo já clássico O Nascimento da Clínica (FOUCAULT.2006), em que aponta para os conflitos entre a medicina moderna e o discurso médico na contemporaneidade com a emergência da bioética e a acentução dos impasses resultantes do impacto das biotecnologias na da vida. Trata-se ainda da "soberania do olhar", do "ato de ver", ou de uma pós-clinica? O corpo, a subjetividade, a doença e o crime tornados informação médica, estatística, balística, ressonâncias, contrastes, mapas e gráficos, aparecem como novos “atores” e elementos dramáticos nas ficções contemporâneas, especialmente nas séries como House M.D. e CSI. Ao analisar alguns dos episódios tanto do ponto de vista do conteúdo quanto da forma , podemos apontar as tecnologias de visualização do corpo, mapeamentos genéticos, diagnósticos computadorizados e monitoramentos em tempo real, equipamentos altamente sofisticados de rastreamentos químicos, elétricos, balísticos, tecnologias de diagnoses e de produção de “evidências” de toda sorte (médicas e criminais), como co-atores nesses dramas. Gadgetes tecnológicos e informação excedente que ultrapassa o domínio dos especialistas e se torna quase uma espécie de “entretenimento”, ou jogos vitais, que mobilizam especialistas e amadores num jogo intenso. Nesses jogos vemos uma gradual mudança de estatuto do “paciente” ou da vitima, tornado “participador”, interator”, co-gestor da sua doença, do seu sofrimento ou do seu crime. Como na produção contemporânea audiovidsual, no momento em que as imagens não "represnetam" mais nada é porque elas implicam a vida e o vivo na sua totalidade. Ainda não podemos dizer que há uma real novidade estética nessas imagens médicas ou da criminologia, mas podemos analisar os modos de autoridade e contra-discurso que ai emergem. |
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Bibliografia | FOUCAULT, Michel. O Nascimento da Clínica. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
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