ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Amor e música no cinema brasileiro de 1958 a 1971 |
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Autor | Dennison de Oliveira |
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Resumo Expandido | Desde pelo menos os trabalhos pioneiros de Marc Ferro nos anos 1970 que se reconhece a utilidade do cinema como fonte para a história. Tornou-se um lugar comum afirmar-se que através do cinema pode-se obter uma amostra do imaginário coletivo de determinada sociedade. Trata-se de uma afirmação que pode ser generalizada para todos os meios de comunicação de massa. No que se refere à produção audiovisual, é reconhecido o seu potencial de dar forma imagística aos sonhos e mitos, tradições e rupturas, historias comuns e regionais, etc. de todos os povos.
Esta pesquisa é dedicada à análise e interpretação de 3 (três) diferentes filmes brasileiros do gênero comédia: “Alegria de Viver” (1958), “Rio, amor e verão” (1966) e “É isso ai, bicho!” (1971). Através deles se percebe de que forma representações fílmicas sobre moral sexual e cultura musical foram afetadas pelas transformações históricas vividas no período. O foco aqui é em temas como os valores patriarcais e a relação da música nacional com a música estrangeira. A história do Brasil ao longo do século XX é marcada pelo lento abandono dos valores da cultura patriarcal em proveito de uma maior liberdade sexual, uma moral mais tolerante e arranjos familiares cada vez mais diversificados. Dos casamentos arranjados, típicos da elite dominante da República Oligárquica (1889-1930), até as uniões estáveis e informais reconhecidas pela atual Constituição (1988), percorreu-se um longo caminho, em direção a uma radical transformação. Por outro lado, o século XX também é marcado pelo surgimento e consolidação da indústria cultural, na qual a música ocupou um papel central. A preocupação recorrente era com aquilo que se pretendida que fosse a “pureza” original do nosso gênero musical mais importante, o samba. O receio de que as propriedades originais da nossa música fossem corrompidas ou deturpadas pelos ritmos estrangeiros foi uma constante ao longo da nossa história recente, se amplificando na medida em que se expandia (e se internacionalizava) a nossa indústria cultural. Como se pode interpretar a forma pelas quais estas questões são retratadas em diferentes filmes brasileiros? “Alegria de Viver” (1958) dentre outros méritos tem a reputação de ter sido o primeiro filme brasileiro a retratar um novo ritmo norte-americano recém-chegado ao Brasil: o “rock and roll”. O protagonista se vê assediado pelo patrão a conhecer e se envolver com sua filha, embora ele esteja apaixonado (e seja correspondido) por outra mulher. Na verdade a moça é a mesma pessoa de forma que, ao final do filme, o casamento “arranjado” pelo rico empresário acaba sendo “confirmado” pela paixão “espontânea” dos noivos. Na parte musical há um claro confronto entre os personagens “maus” e “rebeldes” que freqüentam o Rock Club e curtem rock and roll com o “mocinho” protagonista e seus amigos, que freqüentam o Copacabana Club e curtem jazz. Já em “Rio, amor e verão” (1966) há uma clara ruptura com os valores patriarcais. Não só a moça resiste ao casamento que lha é arranjado pelo pai, aquele com o filho de um antigo colega de trabalho, como abandona sua vida confortável de família rica para viver com o motorista do colega do pai. Na música o embate é entre os fâs da versão nacional do “Iê-iê-iê” dos Beatles (tida como música jovem e moderna) e da Bossa-Nova (que é classificada com “coisa de velho” e “antiga”). O filme “É isso ai, bicho!” (1971) por sua vez pretende retratar o contraste de valores entre o modo de vida e a música hippie e o mundo “careta”. O protagonista é um advogado bem sucedido que larga sua vida tradicional para viver em uma comunidade hippie. Já integrado ao modo de vida contestatório, ele seduz uma colega de trabalho e a convence a viver com ele na comunidade. A trilha sonora é associada ora ao hard rock, ora ao psicodelismo, tendo como referências Jimmy Hendrix (1943-1970) e o primeiro álbum do Led Zeppelin (1968). |
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Bibliografia | CALIL, Carlos Augusto. Cinema e indústria. In: XAVIER, Ismail. O cinema no século. (org.) Rio de Janeiro, Imago, 1996. pp. 45-69
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