ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O filme Salvador Puig Antich e a incômoda memória do franquismo espanhol |
|
Autor | Joao Eduardo Hidalgo |
|
Resumo Expandido | O filme espanhol Salvador Puig Antich, de 2006, é um panfleto político para que a memória deste guerrilheiro catalão, e sua morte, dentro do regime de Franco, não sejam esquecidas pela sociedade espanhola.
Salvador Puig Antich era um jovem de família de classe média de Barcelona, quando em 1970, acaba rebelando-se contra a ditadura, que sufocava a sociedade espanhola nos últimos 30 anos, dentro de um país com severas diferenças culturais e políticas. Nesta época junto com amigos do bachillerato (ensino médio) do Institut Maragall, Xavier Garriga Paituví, Soler Amigó e os irmãos Oriol e Ignasi Solé Sugranyes, formou o MIL – Moviment Ibèric d’alliberació, grupo que combatia tanto o franquismo, como a oposição trabalhista de esquerda organizada. Assaltavam bancos para ter dinheiro necessário para os panfletos, armamentos e financiar ações contra o governo. Os nomes próprios neste filme são um ponto primordial pois individualizam a vida e os envolvimentos que estas pessoas tiveram e suas conseqüências. Salvador é um filme de produtor, o diretor Manuel Huerga foi convidado por Jaume Roures para dirigir o filme, baseado no livro de Fransesc Escribano “Compte Enrera - La vida de Salvador Puig Antich”, pois o fato era uma lembrança viva que o produtor trazia de sua juventude catalã. A brutalidade na conduta dos processos políticos, dentro do regime franquista, é simbolizado pelo instrumento de execução, o “garrote vil”, mais de acordo com um tribunal medieval, do que uma sociedade que tentava trilhar os caminhos da modernidade, que acabava de ser admitida na Comunidade Européia. A mensagem enviada à Catalunha, segundo o autor do livro, onde o filme se inspira, Francesc Escribano era: “Vosaltres continueu essent aquells vençuts que van perdre la guerra civil” (Vocês continuam sendo aqueles vencidos que perderam a guerra civil). Francisco Franco, que estava no poder desde o final da Guerra Civil, em 1936, já apresentava sinais de perda consciência a partir de 1970; mas o seu grupo de apoio continuava tratando uma grande parte dos espanhóis como inimigos e executando os opositores ao regime, como foi o caso de Salvador, em 1974, e dos cinco terroristas do ETA em 1975, ano da morte do ditador. Na época da execução de Salvador foram organizados protestos, Garcia Sevilla fez um curta-metragem em homenagem a Salvador e Lluís Llach compôs I si canto trist, que posteriormente foi tema do filme aqui comentado. “En un momento de efervescencia política, también encontramos casos en los que la experimentación se pone al servicio de la denuncia, normalmente a través de incisivos détournements que desenmascaran las instancias represivas. Em Part/Tot: Puig Antich (1974), el célebre pintor Ferrán García Sevilla da pie a una contra-crónica de la muerte del anarquista catalán subvertiendo el discurso de los titulares de El Caso y de los noticiarios de RNE, en la banda sonora, (...)”(HERNÁNDEZ RUIZ: 2004, p.46) Os filmes que tivessem alguma posição política ou tentassem mostrar acontecimentos como enfrentamentos e execuções, até a abertura política espanhola, ocorrida em 1977, eram proibidos, sem condições de apelação. Até mesmo depois do inicio da abertura, temos um caso notório com o filme El crimen de Cuenca, de 1979, dirigido por Pilar Miró, que mostrava a prática da tortura exercida pela Guardia Civil, braço armado do regime, quando desejava obter confissões. O filme foi confiscado, quase teve seu negativo destruído e foi liberado somente em 1981, depois de um longo processo e de várias manifestações da sociedade que já não admitia nenhum tipo de proibição. A realização do filme Salvador Puig Antich enfrentou oposição dos herdeiros do franquismo, entrincheirados no PP (Partido Popular) e teve manifestações contrárias de antigos participantes do grupo MIL, do qual Antich era membro, discordando de alguns fatos apresentados e a polêmica foi inevitável. |
|
Bibliografia | GARCÍA FERNÁDEZ, Emilio; SÁNCHEZ GONZÁLEZ, Santiago. Guía histórica del cine. Madrid: Complutense, 2002.
|