ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | La hora de los hornos (1968): Cinema, revolução e peronismo na Argentina dos anos 70 |
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Autor | Mônica Cristina Araujo Lima |
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Resumo Expandido | Nesta comunicação analisaremos o filme,La hora de los hornos (1968),documentário representativo da arte engajada ou militante latino-americana, dirigido por Fernando Solanas e Octavio Getino. A partir da desilusão e das conseqüentes reflexões sobre a derrota do governo de coalizão de Arturo Frondizi, na Argentina (1958-1962), Luis Alberto Romero identifica a radicalização política dos grupos de esquerda. Ao mesmo tempo, na Argentina, há uma retomada dos debates sobre o papel histórico do movimento peronista enfraquecido pelas perseguições do governo de Pedro Aramburo e pela tentativa de modernização populista de Frondizi.
As disputas entre as diferentes classes sociais agudizam-se, culminando com o golpe militar de 28 de junho de 1966, no qual o general Juan Carlos Ongania é alçado ao poder. Neste ano também acontece a formação do grupo Cine Liberación, em torno da realização do filme La Hora de los Hornos, finalizado em maio de 1968, na Itália e apresentado ao público no Festival de Pesaro. Neste período, o conceito de “imperialismo cultural” ganhou força nos países latino-americanos. Não se tratava mais só de subjugar povos a partir da violência física e da ocupação territorial, como ocorreu no passado colonial e ainda ocorria em alguns países da África ou da Indochina. Os processos culturais se tornavam, cada dia, mais importantes e as formas de dominação mais complexas. Segundo Schumann, para concretizar seu projeto em um período de repressão massiva, o grupo Cine Liberación necessitava de nova maneira de fazer cinema, nova definição da função do cineasta e sobretudo nova estratégia de distribuição. Estas formulações foram desenvolvidas durante a realização de La hora de los hornos e sintetizadas em seu texto mais importante o manifesto: Hacia un tecer cine: Apuntes y experiencias para el desarollo de un cine de liberación en el Tercer Mundo. O grupo Cine Liberación, consagrou o conceito de “terceiro cinema”. O “primeiro cinema” seria o comercial, o dos grandes estúdios, não tinha conteúdo crítico em relação à sociedade. O “segundo cinema”, seria o de “arte”: não se preocupava com as questões políticas, não conseguia nem pretendia conscientizar e dialogar com a sociedade. No "terceiro cinema", o modelo deveria ser alternativo ao cinema norte-americano com seus gêneros e contéudos pré-concebidos, bem como ao cinema de arte com conteúdo puramente comportamental e universal, produzido para ser consumido pela burguesia culta. O grupo Cine Liberación era contrário à idéia de cinema como puro espetáculo, divertimento e objeto de consumo. O documentário usa material filmado no momento de sua realização e trechos de outros documentários latino-americanos. Dura quase 4h30, e é composto por três partes: Neocolonialismo y violencia, Acto para la liberación e Violencia y liberación. Na primeira parte, o filme procura mostrar que a dependência vivida naquele momento pela Argentina era conseqüência da dependência colonial passada e tenta desvendar os mecanismos de dominação adotados pelo neocolonialismo da época. Na segunda parte, Acto para la liberación, defende o peronismo da acusação de fascista, procurando mostrar sua relação com a classe trabalhadora. Na terceira e última parte, Violencia y liberación, denúncia a crueldade dos métodos utilizados pela ditadura do general Ongania e defende a necessidade de uma ação revolucionária capaz de destruir as estruturas capitalistas e derrotar o neocolonialismo. Nesta experiência o grupo conseguiu criar, produzir, realizar, distribuir, projetar e discutir com o público. O objetivo foi alcançar um público para a formação de consciência social e não público em geral. Neste aspecto sua ligação política com o sindicalismo peronista ajudou muito. Em 1973, havia 58 cópias de La hora de los hornos, em 16 mm, circulando por toda a Argentina. |
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Bibliografia | AVELLAR, José Carlos. A Ponte Clandestina: Birri, Glauber, Solanas, Getino, García Espinosa, Sanjinés, Aléa.Rio de Janeiro/São Paulo: Edusp, 1995.
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