ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Estratégias da direção cinematográfica: estudo de caso do curta-metragem “Gris” de Iana Cossoy Paro |
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Autor | Marcelo Rodrigo Mingoti Müller |
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Resumo Expandido | O contexto do cinema brasileiro contemporâneo, segundo Ismail Xavier (2000), é marcado pela “ausência de movimentos estéticos aglutinadores”, o que permite uma grande liberdade para os realizadores, “em termos práticos, o autor prevalece” e a “escolha entre a inserção no circuito do cinema de arte ou a tentativa de comunicação com o grande público depende fundamentalmente dos realizadores, pois não há pressão imediata por retorno de capital. Valendo mais a convicção pessoal que dirige o projeto numa direção ou noutra.” (Xavier 2000).
Neste ambiente de suposta liberdade, que função ocupa e como trabalha o diretor cinematográfico? Encontrar alguma definição sobre o trabalho do diretor cinematográfico no Brasil provou ser uma tarefa complicada. A Enciclopédia do Cinema Brasileiro (Ramos 2000), obra de referência que apresenta mais de 700 verbetes e “como toda enciclopédia, reflete a visão de uma época sobre o objeto em torno do qual se debruça” (Ramos 2000: introdução, sem número de página), não contempla o verbete “Diretor” ou “Direção”, embora apresente “Assistente de Direção”, “Fotografia”, “Som”, “Técnico de Som”, “Montagem”, “Produção” e “Roteiro”, todos eles com longas explicações (que superam uma página e chegam até nove no caso de “Fotografia”) sobre a função e os profissionais que a exerceram com mais destaque durante a história do cinema brasileiro. A definição profissional de Diretor Cinematográfico no Sindcine, diz que o diretor é aquele que “cria a obra cinematográfica” (http://www.sindcine.com.br/), tal qual a noção de autor descrita por Bernardet (1992), e também supervisiona o trabalho de todos os outros profissionais, adequando técnica e artisticamente o roteiro. Está presente durante todo o processo, do ato criativo original até a distribuição do filme (onde será “responsável pela confecção do trailer e do avant trailer”). Mas sendo o filme o resultado de um longo processo criativo que envolve muitas outras pessoas alem do diretor, acreditamos que a melhor maneira de entender seu trabalho é deslocar o olhar do pesquisador, que tradicionalmente recai sobre a obra terminada, para a observação do processo de construção de um filme, do envolvimento do diretor (na idéia original ou em algum momento posterior) ao seu desligamento (na entrega do material bruto, do corte final, na estréia ou até depois do filme sair de cartaz). Neste sentido, Antony Giddens propõe analisar a conduta estratégica do agente ao apresentar um modelo de estratificação onde “o monitoramento reflexivo da atividade é uma característica crônica da ação cotidiana” (Giddens 2003: 6). Para testar esta óptica de observação sobre o processo de realização, escolhemos analisar a direção da brasileira Iana Cossoy Paro no curta-metragem “Gris” (2005, 16mm, 3 minutos), realizado na Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños (EICTV), Cuba. Captado e finalizado em 16mm, este modelo de “exercício de 3 minutos” vem sido aplicado desde a criação da EICTV em 1986 e sua mecânica de produção está profundamente associada com um pensamento acadêmico e estético que são bases daquela escola. Primeiro vamos descrever como a escola organiza uma série de regras e de etapas que os estudantes devem cumprir, mediante avaliação de professores-assessores, para depois analisar a maneira como a diretora relacionou-se com as regras e superou as etapas. Faremos um recorrido pelas principais decisões da diretora, analisando suas causas e conseqüências: a decisão de tom e da estética durante a escritura do roteiro, o convite a Fernando Birri para atuar, a preparação dos atores, a obrigatoriedade da locação em exterior, o condicionamento da decupagem à narrativa fragmentada e à locação, o condicionamento dos planos à pré-determinação da decupagem, a edição obedecendo ao roteiro e a introdução de novos ambientes e efeitos sonoros durante a mixagem. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2004.
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