ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Da pose fotográfica à passagem cinematográfica: fundamentos da imagem fotossensível |
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Autor | Cristian Borges |
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Resumo Expandido | Em seu livro sobre a fotografia, A câmara clara (1980), Roland Barthes define o que ele considera o fundamento da imagem fotográfica: “o que funda a natureza da Fotografia é a pose”. Mas a pose é entendida ali não como “[…] uma atitude do alvo, nem mesmo uma técnica do Operator, mas [como] o termo de uma ‘intenção’ de leitura”. Isto encerraria, por assim dizer, o ciclo de todo um processo de criação/recepção da imagem, ao estabelecer uma ligação íntima, uma espécie de cumplicidade entre a pessoa fotografada, o fotógrafo e o observador, a despeito das distâncias temporais e físicas que possam separá-los. Esta interpretação audaciosa da pose levará Barthes a supor ainda que se “na foto, alguma coisa posou diante do pequeno orifício e aí permaneceu para sempre”, no cinema, ao contrário, “alguma coisa passou diante desse mesmo pequeno orifício: a pose é levada e negada pela sequência contínua das imagens”. Seguindo esta lógica, poderíamos deduzir a seguinte ideia: da mesma forma que a pose marcaria o fundamento do retrato fotográfico, no caso do cinema tratar-se-ia sobretudo de uma passagem: um fluxo de “poses” se desfazendo e se refazendo, uma "suspensão" em cascata, não se colocando mais em questão um “isto foi”, nem um “isto é”, mas um “isto passou” ou um “isto passa”. E poderíamos decliná-la ainda mais, em direção a um “isto se passou” ou um “isto se passa” – deslocando, então, o acento do objeto ao evento ou experiência.
Assim, a noção de passagem, como fundamento da imagem cinematográfica, estaria ligada não à relação ou à transição entre duas ou mais imagens, mas à movimentação no interior de uma mesma imagem. Não se trata, portanto, das “passagens da imagem” – mencionadas por Raymond Bellour a propósito do que ele define como o “entre-imagens” –, mas das passagens na imagem: do “caminho” percorrido por cada elemento no interior de uma imagem em movimento ou pela câmera sobre os elementos filmados. Tampouco trata-se do “plano” como fundamento de um cinema tendo por corolário a montagem de diferentes planos – como relembra Philippe Dubois em suas reflexões a respeito da estética do vídeo –, mas de algo que (se) passa em seu interior, ecoando de certa forma em nós, espectadores. Logo, a passagem encontra-se a meio caminho entre o espectral do "Pathosformel" (Aby Warburg) – o “movimento” ou o “saber-movimento” das imagens pictóricas – e o "figural" (Dubois) como “matéria de pensamento visual”. |
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Bibliografia | AUMONT, J. A Imagem. Campinas: Papirus, 1993.
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