ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O dado ensaístico na crítica de Glauber Rocha: análise dos primeiros anos de sua formação |
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Autor | Arlindo Rebechi Junior |
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Resumo Expandido | Glauber Rocha (1939-1981) tornou-se amplamente conhecido pela sua atuação como cineasta. Com um amplo reconhecimento da crítica especializada, seus filmes logo ocuparam lugar privilegiado no cânone cinematográfico brasileiro. Certamente, uma análise mais detida de sua fortuna crítica aponta para o reconhecimento de duas faces, as quais compõem o perfil mais recorrente em estudos sobre Glauber Rocha e sua obra. Obviamente, sua expressão mais evidente é a de cineasta, ancorada desde sua primeira direção, em Barravento (1961), até seu último trabalho, em A idade da terra (1980), para em seguida, e em complemento a esta primeira, vir à tona a figura do agitador cultural do Cinema Novo, o polemista. Misto de estouro e libertação (termos de Antonio Candido em referência a Oswald de Andrade), Glauber Rocha aliou, de modo disciplinar, estas duas atuações em constante movimento no sentido de discutir um modelo crítico de trabalho artístico na condição periférica, no chamado Terceiro Mundo. A tensão entre centro e periferia, mundo desenvolvido e subdesenvolvido, são termos, estes, que conduzem para uma chave interpretativa de sua cinematografia e sua atuação política em grupos artísticos no Brasil e fora dele. No entanto, esta relação com estes termos não aparecem apenas no momento em que focalizamos estas duas faces do intelectual, ou seja, quando este já é um cineasta de pleno reconhecimento internacional ou a pedra de toque do Cinema Novo. Seus primeiros escritos de periódico já apontam para um interesse nos mecanismos explicativos da arte fora dos centros europeus ou americanos. É neste apontamento que reside o propósito desta comunicação. O foco aqui é o jovem Glauber Rocha, ainda em princípio de trabalho artístico, sem a experiência dos grandes filmes, mas já um crítico militante de jornais e revistas literárias. As revistas Mapa e Ângulos formam o espaço inicial de sua atuação. A primeira, elaborada por Glauber e outros companheiros do Colégio Central, abre o espaço, junto com outras ações como as encenações de As Jogralescas, para se discutir o conservadorismo artístico em Salvador e colocar em evidência uma nova geração artística que ali estava surgindo. Em Ângulos, revista elaborada pelos alunos da Universidade da Bahia, evidencia-se seu olhar do teórico do cinema difundindo que a novidade do Cinema Novo está não no seu “fotografismo”, mas em sua “questão de verdade”, clara alusão que demarca com traços graves a separação entre o cinema de autor na condição colonial e o cinema industrial. Dos primeiros jornais, sobretudo o Diário de Notícias e o Jornal da Bahia, surgiram outras investidas em defesa não só do cinema na Bahia e suas condições de produção, mas também de outras formas artísticas como o teatro e a literatura. Um bom exemplo é o seu ensaio “Inconsciência & inconseqüência da atual cultura baiana”, de 05 de fevereiro de 1961, publicado no Diário de Notícias. Das viagens ao Rio de Janeiro nos primeiros anos da década de 1960, surgem laços estreitos com aqueles que seriam os principais companheiros do Cinema Novo e, assim, Glauber inicia sua colaboração no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, local onde publica o emblemático texto “O processo cinema”, em 1961. Uma das razões, certamente não a única, que justifica esta comunicação é que nela reside também um projeto de mapeamento da produção glauberiana em periódico, identificando condições de produção nos seus contextos sociais e buscando delinear um perfil desta sua forma ensaística com jogo interno próprio de argumentação e trabalho de linguagem singular. O argumento pode ainda ser reforçado na medida em que sabemos que muitos destes seus textos críticos foram cortados e emendados, tal como seu autor gostava de fazer, para serem utilizados em seus projetos de divulgação e militância no campo cinematográfico brasileiro, sobretudo em seus três livros de críticas, Revisão Crítica do Cinema Brasileiro, Revolução do Cinema Novo e ainda O Século do Cinema. |
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Bibliografia | ROCHA, Glauber. Revisão crítica do cinema brasileiro. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
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