ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Realidade, realismo, neo-realismo: a poesia e o poético em André Bazin |
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Autor | Mário Alves Coutinho |
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Resumo Expandido | Ao encarar a tarefa de pesquisar, traduzir e ensinar os textos que André Bazin escreveu sobre o realismo, neo-realismo, cinema documentário e científico – textos inéditos em português, extraídos de vários livros de sua autoria – no âmbito do Pós-Doutorado que atualmente realizo na Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais – e, ao mesmo tempo, ao ler o único livro dele publicado em português, embora esgotado – tenho observado algumas particularidades que não são muito levadas em consideração na teoria deste grande pensador francês, quando se trata de avaliá-las.
Quando escrevem sobre a teoria baziniana, a maioria dos comentadores e autores fala longamente sobre o realismo automático da câmera: o próprio Bazin afirmava que a câmera, com seu mecanismo, e o filme, com sua existência química, prescindiam da intervenção humana, até certo ponto. A partir daí, e basicamente a partir desta teorização baziniana, alguns teóricos vão falar de e tentar estabelecer uma certa ingenuidade deste autor. Um exemplo: “André Bazin foi o principal arauto desta idéia (hoje bastante envelhecida) de que função do cineasta é lançar um olhar sobre o mundo e respeitar sem interferências, a revelação obtida pela câmera” (MACHADO, 1997: 246). Sem propriamente negar estas colocações bazinianas (e que fazem inegavelmente parte de seu arsenal teórico), procuro argumentar e mostrar, neste trabalho, que a teoria baziniana tem algumas outras características, que modificam e enriquecem esta primeira afirmação. Num primeiro momento, me valendo de várias e muitas citações, espalhadas por toda sua obra, mostro que ele era perfeitamente consciente do fato de que não bastava colocar a câmera frente à realidade para obter um “realismo automático”. Era preciso o diretor escolher, interferir, buscar, decidir. E que o neo-realismo, sobre o qual ele tanto escreveu, não era uma regressão estética, mas sim “uma evolução conquistadora da linguagem cinematográfica, uma extensão da sua estilística” (BAZIN, 1991: 243). Em resumo, que o realismo baziniano não é descrito (nem assumido, consciente ou inconscientemente) como “natural”, mas construído, uma verdadeira retórica, que precisa de decisões, escolhas, elaborações autorais. Ao mesmo tempo, procuro mostrar outro detalhe da teoria baziniana, que vai no sentido de abolir esta idéia mecanicista de seus escritos: seu realismo inclui o espectador que, segundo Bazin, teria necessariamente de escolher o que ver e que sentido dar ao que estava vendo. Procuro mostrar, também, mais uma característica da teoria baziniana: praticamente todos os diretores e filmes sobre os quais ele escreveu e descreveu como realistas, ele, ao mesmo tempo, definiu como “literários”, quer dizer, escritos com a câmera, segundo a célebre formula de Alexandre Astruc. De alguma maneira, para Bazin, o cinema realista que ele defendia era “escrito” com os recursos da linguagem cinematográfica: câmera, enquadramento, iluminação, diálogos, etc. Tudo isto eu escrevi citando textos do autor e trabalhando com posições significativas, que ele tomou em mais de um ensaio. Ao mesmo tempo, procuro mostrar uma característica essencial do texto baziniano: repetidamente, ele se serve de alguns insights poéticos, que ele transporta para o cinema. Isto é feito sem pretender o óbvio: não se trata de descobrir autores que Bazin cita (alguns deles ele provavelmente nem conheceu), mas apontar métodos e estabelecer relações entre algumas teorizações bazinianas e várias descobertas imemoriais de alguns poetas/ escritores/filósofos. Desta maneira, uso alguns versos e algumas colocações de T. S. Eliot, William Blake, Martin Heidegger, Lévi-Strauss, entre outros, tentando estabelecer em que sentido pode a teoria de André Bazin ser aproximada ã algumas descobertas poéticas. Finalmente, procuro mostrar, citando alguns de seus textos, que André Bazin, enquanto ensaísta, escreveu num estilo eminentemente poético. |
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Bibliografia | ANDRADE, Carlos Drummond de. A paixão medida. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1983.
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