ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | De Flaherty a Rouch, a invenção da tradição |
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Autor | Henri Arraes de Alencar Gervaiseau |
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Resumo Expandido | Em diversos artigos e entrevistas, Jean Rouch situa a sua prática cinematográfica na linhagem, entre outras, da tradição que Flaherty inauguraria com Nanook (1922).
Efetivamente, para Rouch, “Flaherty, durante os quinze meses da realização de Nanook inventou e pós tudo em prática: o contato preliminar, a amizade, a participação, o conhecimento preliminar do assunto antes da filmagem, a colocação em situação (Nanook interpreta o papel de Nanook), a encenação a mais difícil, a da vida real.” { Rouch, apud Marsolais, Gilles: L´aventure du cinéma direct revisitée. Laval: Editions Cinéma, les 400 Coups. 1997, p.29 } Fazendo etnografia sem o saber {Apud Rouch, Jean: La caméra et les hommes, in: France, Claudine: Pour une anthropologie visuelle, Paris: Mouton Éditeur, 1979, p. 53-71, part.p.55}, Flaherty buscava, como o realizador francês, apreender o ponto de vista do observado, o que constitui, segundo definiu posteriormente Levi-Strauss, o método próprio desta disciplina das ciências sociais. Para além da constatação da reiterada reivindicação, por Rouch, desta filiação, parece necessário estabelecer comparações mais precisas entre alguns aspectos dos métodos de trabalho e dos procedimentos artísticos dos dois cineastas em alguns filmes tais como, por um lado, Nanook, Moana (1926) O homem de Aran (1934), Louisiana Story (1948); e, por outro, Eu, um negro (1958); A pirâmide humana (1959), e Jaguar (1954-1967). Nesta perspectiva comparativa iremos examinar sucessivamente, o uso de métodos e procedimentos nas três etapas do processo de realização cinematográfica: preparação, filmagem e montagem. Num primeiro momento, examinaremos diferentes métodos de imersão dos dois cineastas no meio, os seus métodos iniciais de observação da comunidade estudada, o estabelecimento de relações com os potenciais personagens, e o modo progressivo de escolha de situações a serem enfocadas, na ausência de um roteiro prévio, nos diferentes filmes citados. Num segundo momento, examinaremos, nos mesmos filmes, não apenas modos diferenciais de registro e de encenação de situações, de uso das câmeras e de recurso a atores não profissionais ou de pessoas convidadas a representar as suas próprias vidas, mas ainda o entendimento da filmagem como um processo em que cineastas e personagens compartilham, pelo menos parcialmente, um acesso ao resultado progressivo das gravações. De particular interesse será aqui o recurso a noção de mise-en-scène documentária, inicialmente proposta por Delavaud. Finalmente, aspecto menos explorado na bibliografia existente, iremos comparar procedimentos de montagem e modos de construção da narrativa, privilegiando, neste contexto, a evocação de O homem de Aran e de Eu, um negro. Cabe ressaltar que através da discussão proposta almejamos contribuir para uma maior sedimentação histórica do debate critico brasileiro atual sobre a exploração das fronteiras entre documentário e ficção. |
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Bibliografia | COMOLLI, Jean-Louis: Détour par le direct, in: Cahiers du cinéma. N.∘209 et 211. 1969
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