ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Nem cubo branco, nem sala escura: Cinema expandido e a questão do espaço expositivo |
|
Autor | NINA VELASCO E CRUZ |
|
Resumo Expandido | A presente proposta pretende discutir as relações entre o cinema expandido e o espaço expositivo, acreditando que seja possível identificar aí uma crítica ao modelo clássico de cinema e, simultaneamente, à concepção moderna de arte. Para tal, serão analisadas três obras representativas para essa discussão: Corpocinema (1967) de Jeffrey Shaw, as Cosmococas (1973) de Hélio Oiticica e Neville d´Almeida, e The Paradise Institute (2001) de Janet Cardiff e George Bures Miller.
O termo “cinema expandido” foi cunhado por Gene Youngblood na década de 1970 para dar conta de uma série de experiências híbridas que surgiram na época, unindo cinema, vídeo e tecnologia digital à luz da teoria cibernética e de uma aposta na indistinção entre arte e vida. Atualmente, o termo vem sendo utilizado de modo menos utópico para se referir a um conjunto de obras que problematizam o cinema tradicional na esfera da arte, notadamente as experiências de videoarte, instalações e filmes experimentais realizados a partir da década de 60. André Parente (2007, p. 39), por exemplo, usa o termo relacionando-o ao “processo de desolcutamento do dispositivo do cinema e da produção de uma imagem processual, aberta, que envolve o espectador”. Preferimos a acepção mais genérica do termo, como a definida por Parente, porém vamos amplia-la para ressaltar a dupla potência dessas obras: para além de uma referência explícita ao dispositivo cinematográfico, acreditamos que várias dessas experiências colocam em questão o dispositivo artístico através da relação entre obra e espaço de exposição. O’Doherty, em seu famoso livro sobre o cubo branco e a ideologia do espaço da arte, identifica o espaço da galeria com o movimento moderno, seja a partir de sua instituição clássica, seja em constantes rupturas com esse modelo. A constituição do quadro de cavalete vai paulatinamente sugerir um espaço ideal para a exposição de uma obra de arte. Se nos primeiros Salões de Arte do século XIX nos deparamos com uma absurda disposição de obras em uma galeria é porque o quadro de cavalete irá possibilitar uma apreciação autônoma de cada obra. A moldura funciona como se fosse um parêntese que separa o espaço de cada obra. Essa autonomia se intensificou ao longo do modernismo fazendo com que cada obra exigisse um espaço “entre”, um espaço vital, sendo necessário separa-la de todas as outras através de um intervalo em branco proporcional ao espaço de que necessita. Com o gradual rompimento dos suportes tradicionais (moldura, quadro de cavalete, pedestal, etc) o único suporte que resta é a própria galeria de arte, o cubo branco ideal que serve como base, isolando e legitimando a obra de arte. Assim, surgem os preceitos básicos da galeria moderna ideal, em que a iluminação, a brancura da parede e o isolamento total funcionam em conjunto para fundar um espaço ritual muito semelhante a um espaço religioso. Poucas vezes esse espaço foi de fato questionado e tematizado por artistas, desde o início do século XX até os anos 60 e 70. O cinema expandido irá representar novos desafios para o espaço expositivo do cubo branco, ao mesmo tempo em que também romperá com outro espaço expositivo: o teatro escuro do cinema tradicional. No que diz respeito ao espaço ideal de projeção do cinema, em que o espectador deve se colocar em um ponto de vista fixo, com isolamento acústico ideal e sem que nenhum elemento externo perturbe o estado de sonambulismo em que deve se encontrar o espectador do cinema de ficção clássico (METZ, 1980, p. 144), o cinema expandido assume uma nova experiência perceptiva. O espectador passa a ter mais mobilidade diante da tela, rompendo com a sensação de imersão completa que o abandono do corpo na escuridão procura permitir. O espaço ideal da galeria sofre também intervenções arquitetônicas importantes, muitas vezes obrigando o espaço a ser recortado por divisórias, escurecendo alguns ambientes, ou projetando imagens diretamente em suas paredes. |
|
Bibliografia | O´DOHERTY, Brian. No interior do cubo branco: a ideologia do Espaço da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
|