ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Representações Barrocas em A Idade da Terra, de Glauber Rocha |
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Autor | Gisele Lucowicz Costa |
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Resumo Expandido | O presente texto pretende trazer à discussão os usos das representações barrocas para o cinema. Para tanto, foi escolhida a última produção do realizador Glauber Rocha: A Idade da Terra, de 1981.
A história da arte atual comunica ao mundo possibilidades de significados para o mundo se refazer. Afinal, ela não é feita por homens do presente? (BLOCH, 1970) Como relacionar história da arte e cinema? Glauber nos informa sua possibilidade. Ele observa a Salvador e seu patrimônio histórico, artístico e cultural do século XX e desenvolve seu processo de criação a partir destas percepções e estudos. Formula um cinema de significações históricas, culturais e artísticas, não só a partir dos monumentos tombados; Glauber já alimentava e acompanhava o discurso dos estudiosos(MAGALHÃES, 1985) da renovação da temática patrimonial dos anos 1970. Ele percebia pelas ruas de Salvador o intangível, os vestígios imateriais de um patrimônio que começava a ser observado e que só receberia tratamento adequado pelas políticas patrimoniais de agora pouco. Por mais que os órgãos responsáveis pela preservação de nosso patrimônio já intencionassem para a mudança no que diz respeito ao tombamento dos bens imateriais e sua conseqüente preservação, a sensibilidade artística de um modo geral para o cinema, deixava passar essa resignificação histórica como exercício de abstração livre, deixando para os filmes de época o trabalho da pesquisa histórica. Num momento do filme A Idade da Terra, nas idas seqüências finais, a voz em off de Glauber surge, enquanto o personagem do Cristo Negro - interpretado por Antônio Pitanga - exibe o quadro de pintura do Cristo Crucificado. Glauber monologa sobre a idéia de seu filme, verbaliza o argumento. E ele afirma que seu filme dizia sobre o barroco colonial baiano, referindo-se ao povo baiano que preservava costumes e pensamentos de outrora, que andam pelas ruas e viviam na Salvador de então. É neste movimento da leitura semiótica do cotidiano, em conjunto com os referenciais teóricos da história da arte, que Glauber ressignificou o presente fílmico(HERMES, 2006) e criou cenário, figurino, texto e movimento de câmera em A Idade da Terra. A partir da percepção sobre a formação da sociedade brasileira, o diretor baiano inferiu uma composição cinematográfica calcada em alegorias, principalmente na criação de seus personagens, mas também em seus textos e cenários. Foi por acreditar na força comunicativa que as expressões alegóricas possuíam, na sua violência sensitiva e transformadora, que Glauber construiu seu cinema repleto de figuras alegóricas retiradas da leitura da cultura barroca colonial luso brasileira. Em A Idade da Terra, na seqüência onde sua voz em off aparece, ele declara essa intenção e depois, ao assistirmos os extras do segundo DVD (o lançamento consiste em dois DVDs; um com o filme e outro com material extra), membros da equipe técnica reafirmam suas declarações, como os diretores de arte, figurinista, maquiador. "[...] o cinema de Glauber utiliza-se de narrativas alegóricas e/ou em forma de parábolas, discurso alegórico que marca a década de 60 (relacionando antigo e o novo; o histórico e o atemporal, o mais moderno e o mais arcaico). As alegorias são materialização de conceitos. Glauber cria tipos alegóricos não-psicológicos que se definem pela sua exterioridade e imagem: enfeites e adereços, figurinos, símbolos e ícones religiosos, e diferentes estéticas vindas do catolicismo e do folclore afro-brasileiros."(BENTES, 2002) A preocupação do presente trabalho se concentrará numa análise mais cuidadosa desses elementos “advindos do catolicismo” e apresentados em forma de alegorias audiovisuais, não esquecendo de pontuar a diversidade temática utilizada pelo realizador, mas preocupando-se apenas no que concerne as representações barrocas em A Idade da Terra. |
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Bibliografia | Alegoria Barroca na Arte Contemporânea.Centro Cultural Banco do Brasil.Coordenação e Curadoria:Alfons Hug.São Paulo:Editora Gráficos Burti,2005.
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