ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O sertão em imagens: políticas e identidades no cinema brasileiro |
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Autor | Émile Cardoso Andrade |
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Resumo Expandido | A proposta deste estudo centra-se na análise das imagens do sertão já produzidas pelo cinema brasileiro desde os anos 50 e suas relações com a forma como a identidade nacional é (ou não) representada. Além disso, esta discussão interessa-se em pensar as possibilidades de reconhecer o cinema brasileiro que expõe o espaço do sertão como uma experiência estética e política, levando em consideração, principalmente, a produção contemporânea. Em consonância com as idéias de biopolítica de Foucault, de estética e política de J. Rancière e das novas formas de se entender e praticar política de Chantal Mouffe, importa-nos compreender em que medida e sob quais prerrogativas pode-se afirmar que o cinema brasileiro atual possui uma discussão política em torno do espaço do sertão que remonta àquilo que já pode ser denominada como uma tradição no cinema brasileiro: o filme que explora o sertão como imagem nacional. Essa tradição é tributária de um percurso literário fundamental à cultura brasileira e que serve de base à sua formação. Obras como Os sertões de Euclides da Cunha e Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa não apenas são consideradas intérpretes políticas do Brasil como fornecem os fundamentos para uma recorrente e prolífica produção cinematográfica que apresenta o espaço do sertão. Desde os anos 50 (em filmes como Os Cangaceiros , 1953, de Lima Barreto), passando pelo Cinema Novo nos anos 60 (de Glauber e Nelson Pereira dos Santos) é possível reconhecer o sertão como espaço imagético de representação identitária e política brasileira. Essa caminhada histórica continua até o cinema do início do século XXI, com diretores como Karim Aïnouz, Walter Salles, Marcelo Gomes. Estes, ao filmar as contingências de um mundo em processo de fragmentação e crise, insistem na utilização do sertão como lugar de discussão dos problemas brasileiros. A recorrência deste uso justifica a necessidade de uma observação acurada acerca das produções contemporâneas que o contemplam. Partindo deste ponto de vista diacrônico do cinema nacional, concentramo-nos nas noções de identidade e política inseridas em cada contexto histórico referido acima e atentamo-nos especialmente na inserção destas discussões no cinema contemporâneo brasileiro, observando o quão diferentes elas se apresentam. Embora boa parte da crítica cinematográfica brasileira afirme o contrário, acreditamos que é possível encontrar um complexo e atualizado debate político no cinema brasileiro do final do século XX, início do século XXI. Para tanto, apoiamo-nos em primeiro lugar nas idéias de J. Rancière, que em seu ensaio “O Desentendimento” (1996) afirma que a política está longe de ser o espaço de uma atividade harmônica, em que os homens debatem pelo bem comum, e sim, um lugar essencialmente marcado pela aporia do desentendimento, em que a comunidade (relegada a um plano fora da assembléia representativa tradicional) manifesta o desejo de falar e ser ouvida. Diante isso, os frequentes e atuais movimentos sociais identitários se mostram arenas eficazes e acessíveis ao fazer político atual, que como observa Mouffe: “são perspectivas inteiramente novas de ação política que nem o liberalismo, com sua idéia do indivíduo que só busca o próprio interesse, nem o marxismo, com a sua redução de todas as posições subjetivas à posição de classe, podem sancionar, quanto mais imaginar” (1993, p.26). Além dos estudos acima, a noção de biopolítica de Foucault e os problemas da auto-representação e políticas de identidades de que tratam E. Shohat e R. Stam (2006) prestam importante auxílio no que se refere ao entendimento da política como uma atividade vinculada às diversas posições subjetivas, identitárias e afirmativas, que partem do individual ao universal (Mouffe, C. 1993). Outros problemas como a definição do vínculo entre identidade e pertencimento também se apresentam pertinentes em nossa análise, sendo também válidos os estudos de Z. Bauman e P. Bourdieu nesse sentido. |
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Bibliografia | BAUMAN, Zygmunt. Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
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