ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Do Terceiro Cinema à política da intimidade no documentário contemporâneo |
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Autor | Fernando Weller |
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Resumo Expandido | O filme documentário é tradicionalmente identificado com o que o teórico norte-americano Bill Nichols chama de “discursos de sobriedade” (NICHOLS, 1997, p. 32), aqueles ligados às ciências sociais, ao direito ou ao jornalismo. Trata-se de um discurso que se apresenta investido de verdade, dotado de uma autoridade sobre o real diferenciada em relação à ficção. Ele se apóia em um estilo que ainda é dominante nas produções em canais de TV como Discovery Channel e afins, caracterizado pelo tratamento instrumental das imagens e a submissão da montagem a uma lógica retórica. Essa construção argumentativa do documentário chamado clássico aproxima os filmes dos discursos das ciências sociais e os afasta das formas ficcionais no cinema. Tal modo documental tornou-se hegemônico a ponto de se assumir como a própria definição de documentário.
No Brasil, Jean-Claude Bernardet define igualmente um “modelo sociológico” (BERNARDET, 2003, p. 17) no documentário brasileiro que se consolidou até o final da década de 60. Quanto ao estilo, os filmes mencionados por Bernardet procuravam submeter quase sempre as imagens a uma lógica probatória, expressa pela célebre voz de Deus, ou a voz em off . São filmes que veiculam um “saber generalizante que não encontra sua origem na experiência, mas no estudo de tipo sociológico” (op. cit.). Quanto à recepção, havia (e ainda há, em certa medida) uma distinção para o público do documentário no Brasil entre filme e documentário, sendo o primeiro a ficção, o cinema de fato, e o segundo, o cinema do real, quase sempre vinculado a discursos de denúncia, apoiados em uma autoridade inconteste. O documentário seria, sob a perspectiva de uma leitura hegemônica dos filmes, de uma ordem menos artística em comparação à ficção, na medida em que o real não possui autor. A autoria no documentário estaria vinculada mais a um espírito denunciador, a uma direção do olhar ou uma escolha dos temas, do que propriamente a criação de um discurso original. Ocorre, nos dias de hoje, uma transformação no modelo hegemônico documental: se antes ele era baseado no distanciamento do autor, agora ele tem como traço característico uma espécie de exigência de assunção autoral. A reflexividade, recurso que possuía no final dos anos 60 o sentido de desconstrução do ilusionismo cinematográfico e de suas conseqüências políticas, aos poucos tem se tornado um novo lugar-comum do filme documentário ou, pelo menos, daquele que se autodenomina criativo. A partir de uma breve análise de dois filmes desviantes do modelo retórico documental, Memórias do Subdesenvolvimento (1968) e Santiago (2007), propomo-nos a traçar o desenvolvimento do que chamamos de política da intimidade no documentário, dos anos 60 até os dias de hoje. Embora reconheçamos a diversidade de estilos e conteúdos nas produções audiovisuais latinoamericanas contemporâneas, analisamos a hipótese da consolidação de uma nova ordem hegemônica no documentário baseada na ênfase na subjetivade dos personagens e realizador. |
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Bibliografia | ALEA, Tomás Gutiérrez. Dialética do Espectador. São Paulo: Summus, 1984.
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