ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | “Os saltimbancos trapalhões” (1981): um blockbuster-high concept-brazuca? |
|
Autor | Paulo Roberto Ferreira da Cunha |
|
Coautor | Rogério Ferraraz |
|
Resumo Expandido | Este trabalho, apresentado em dupla com Rogério Ferraraz, propõe a análise do filme “Os saltimbancos trapalhões”, de 1981, com o objetivo de verificar em que medida a obra pode ser considerada um exemplo brasileiro de uma concepção industrial de cinema que se apropria dos modelos hollywoodianos do blockbuster e do high concept.
Entre 1978 e 1990, período marcado pela formação mais famosa do grupo Os Trapalhões, o quarteto constituído por Renato Aragão (Didi), Manfried Sant’Anna (Dedé), Antônio Carlos Bernardes Gomes (Mussum) e Mauro Faccio Gonçalves (Zacarias), protagonizou 22 filmes em longa-metragem que levaram, juntos, mais de 77 milhões de espectadores aos cinemas. Neste conjunto de filmes, é possível verificar algumas características recorrentes, tais como: a mistura de gêneros cinematográficos; a apropriação de obras literárias e temas da cultura brasileira; a recorrência ao fantástico e ao maravilhoso; entre outras. Muitas vezes, tais características apareciam, inclusive, combinadas, a partir de um processo de apropriação de certos códigos narrativos e estéticos, que adquiriam, assim, novos sentidos, mas mantendo sempre a idéia de (e a busca por) um cinema de entretenimento de grande alcance popular. Para estudar como ocorreu esse fenômeno a partir da análise de “Os saltimbancos trapalhões” é preciso, portanto, compreender também como se estruturou o cinema de entretenimento contemporâneo, a partir dos modelos matrizes hollywoodianos focados nos conceitos de blockbuster – filme de estúdio, baseado na concepção dos gêneros cinematográficos, feito com grande orçamento, que, por uma estratégia agressiva de lançamento no maior número de salas, procura se pagar já no primeiro fim de semana em exibição – e de high concept – produção fílmica já conjugada, desde a etapa de criação, a outros produtos, com o objetivo de potencializar a lucratividade (ver MASCARELLO, 2006; WYATT, 2006) Considerando, assim, a influência de padrões estéticos e conceituais da indústria cinematográfica norte-americana no mercado brasileiro, é possível observar que alguns dos elementos que configuraram as transformações em Hollywood nos anos 70 (caso do blockbuster) e anos 80 (caso do high concept) podem ser identificados aqui, (re)apropriados e (re)trabalhados, por exemplo, no tipo de cinema de entretenimento desenvolvido pelo grupo Os Trapalhões. Um cinema que vai ao encontro daquilo que Bernadette Lyra e Gelson Santana definem como “cinema de bordas”. Em “Cinema de bordas” (A Lápis, 2006), Lyra e Santana levantam algumas condições para caracterizar um filme de bordas: formas que remontam aos folhetins, que visam o divertimento do público através de dois eixos narrativos principais, ação e sentimento; conformação dos gêneros cinematográficos, através da repetição e da atualização; previsibilidade na codificação de estilos, formas e conteúdos; e o aproveitamento de imagens, sons e temas vindos de outros meios de expressão populares. Todas essas condições podem ser facilmente encontradas nas obras d’Os Trapalhões. Portanto, estudar e analisar as influências estéticas e temáticas que marcaram o cinema da década de 1980 é, acima de tudo, matéria para compreender a contemporaneidade. Trata-se de buscar pistas no momento em que Hollywood vivia uma fundamental transformação, a partir do modo de produção de seus filmes, orientados como produtos comerciais. Trata-se também de entender o cinema como entretenimento e diversão, buscando estudar filmes que fogem aos modelos “artísticos” e autorais. Trata-se, pois, de valorizar a relação que se estabelece entre cinema, filme e espectador. Trata-se, enfim, de verificar como o cinema brasileiro, representado aqui na obra d’Os Trapalhões, reflete e gera novos sentidos a esse modo de fazer e de compreender as formas midiáticas do entretenimento popular. Palavras-chaves: “Os saltimbancos trapalhões” (1981) ; gêneros cinematográficos ; entretenimento. |
|
Bibliografia | ALTMAN, Rick. Film/Genre. London: BFI, 1999.
|