ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Memórias construídas: a história segundo Aleksandr Sokúrov |
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Autor | Neide Jallageas |
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Resumo Expandido | Para realizar boa parte de sua produção documental, o cineasta russo Aleksandr Sokúrov recorta dos velhos arquivos russos fotografias, rolos de filmes e sons (já existentes) e os remonta devolvendo ao espectador um arquivo atualizado. A pergunta é: meio a um sofisticado trabalho com atores (e não atores) e construções de requintados planos-sequência para os quais, inclusive, tem sido projetadas e construídas não apenas lentes, mas câmeras especiais, por que fazer justaposições de velhos fragmentos de álbuns de família ou do estado? Um dos possíveis caminhos para enfrentar o desafio proposto por essa questão é observar esse tipo de procedimento como deslocamento e reescritura da História em benefício de uma revitalização da memória russa até então escrita pelo regime oficial o que, por outro lado não limita a memória apenas à Rússia e tampouco ao procedimento de colagem, embora seja esse, aqui, o nosso ponto de partida. Nessa perspectiva o presente trabalho investiga a apropriação e colagem de imagens e sons de arquivo enquanto elementos construtivos do cinema de Sokúrov. A construção deste cinema é estudada no âmbito de procedimentos redimensionadores da memória russa recente, colocando na pauta da contemporaneidade os jogos de poder do período soviético. Sokúrov, neste movimento, vincula estratégias de reescritura do passado recente, colocando em cheque a história oficial. Ao se deslocarem de um espaço e tempo a outro, imagens e sons de arquivo articulam elementos plurais da linguagem tornando possível ao espectador a reordenação de renovados e múltiplos sentidos. As colagens de Sokúrov são pensadas enquanto prática artística cujos procedimentos foram intensamente experimentados pelas vanguardas históricas (construtivismo russo e dadaísmo) como uma linguagem renovadora e revolucionária, como forma de descentramento de um ponto de vista único e portanto de policentrismo do olhar. Apropriação diz respeito a tomar de outro espaço e tempo, elementos fixados em imagens e/ou sons, elementos esses cujos significados são inerentes àquele espaço e tempo. Colagem consiste na própria ação de transferir os elementos apropriados para um espaço e tempo distintos oferecendo ao espectador renovadas possibilidades de sentido. O que é dado a ver através desse processo, são planos de espaço e tempo diversos que podem ser deslocados e recompostos quando de sua interpretação, considerando-se que esse procedimento faculta ao espectador a possibilidade de deslocar o seu ponto de vista em um movimento criador pois, já na construção da obra os pontos de vista múltiplos trazem como atributo a mobilidade e a passagem franqueada à reinterpretação. Cabe enfatizar que apropriação e colagem são aqui entendidas como blocos de espaço-tempo diversos em deslocamento ou, como serão aqui nomeados e conceituados: deslocamentos críticos. |
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Bibliografia | BAJTIN, Mijail M. Hacia una filosofia del acto ético. De los borradores y otros escritos. Trad. Tatiana Bubnova. San Juan: Universidad de P. Rico, 1997.
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