ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Do nascimento à morte do autor - reflexões de uma recepção sobre dois status cinematográficos |
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Autor | Eliska Altmann |
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Resumo Expandido | Tomando como base operações que inscrevem a arte nos regimes da singularidade e da comunidade, serão analisadas proposições críticas de dois cineastas brasileiros a configurarem uma recepção latino-americana.Críticas discutidas em uma primeira parte do trabalho aportam aspectos significativos para a análise uma vez que, além de avaliarem a figura de Glauber Rocha em relação a suas imagens, ressaltam sua expressão pessoal frente ao contexto social da época. Referentes a este cineasta, as críticas utilizam o conceito de autor a partir de influências da política dos autores francesa. Notando um isomorfismo entre autor e obra, tal recepção elabora uma transfiguração do artista em povo. Esses cruzamentos conferem ao cineasta uma espécie de harmonia natural entre a história de seu mundo vivido e aquela representada em seus filmes. A concepção de autoria revelada pela recepção traz à luz sua categoria fundamental no que concerne o-homem-e-a-obra. Aqui, os filmes ganham adjetivos humanos. Assim, a obra seria agressiva, ácida e furiosa porque seu autor assim o é. Os textos transferem às imagens o que consideram a personalidade de Glauber Rocha, projetando sua expressão única em termos psicologizantes, operadores de um discurso específico. A recepção latino-americana parece humanizar e familiarizar o autor brasileiro, num desejo de biografização e simbiose.
Em uma segunda parte do trabalho será possível verificar que diferentemente das críticas dos anos 1960 as dos anos 1995-2000 se referem a Walter Salles a partir de um olhar mais multifacetado que, para além do termo autor, lhe atribuem alguns outros como “diretor”, “realizador” ou “cineasta”. Enquanto os críticos dos anos de 1960, marcados por um projeto moderno da singularidade do artista, conferiam à recepção de um filme características idiossincráticas de seu criador, as críticas de trinta/quarenta anos depois não mais descrevem o cineasta por meio de traços individuais que fundamentam sua obra. Não há afirmações de que os filmes de Walter Salles sejam “ácidos”, “agressivos” ou “serenos”, uma vez que não há informações se o próprio o seria. Tais leituras levantam questões acerca do modus operandi da nova geração da crítica, do tipo: seria esta uma qualidade da nova geração da crítica? Teria a “função-autor” se alterado? Qual a sua pertinência na atualidade? De modo a pensar tais questões, veremos que a recepção de Walter Salles o contextualiza no campo do chamado “cinema da retomada”, a partir de uma suposta influência do movimento cinemanovista. Ou seja, a recepção latino-americana sugere uma positivação relativa ao cineasta, tendendo a vê-lo como um dos principais nomes da atual geração, responsável, sobretudo, por retomar aspectos culturais e identitários de outrora. Institui-se, então, uma espécie de contradição central na recepção: embora não seja lido em termos de certos padrões da autoria, Walter Salles é visto como o cineasta mais adequado para resgatar as preocupações de certos autores cinemanovistas. Se as críticas pautadas pela política dos autores visavam demonstrar uma certa coerência entre personalidade, formação e trajetória do cineasta e sua obra, as contemporâneas caminham em direção oposta: a vocação do cineasta abastado parece ser a de ir ao encontro daqueles que se encontram em situação econômica desfavorecida. Longe de usarem juízos de valor e adjetivos, as críticas não expressam tal constatação em estilo salvacionista tampouco pejorativo. O autor, simplesmente, deixa de ser exaltado como peça rara coerente com uma construção antiindustrial e artística. Nota-se, então, que o autor, outrora constante e coerente com o compromisso artístico-identitário que visava imprimir em sua obra, deu lugar a uma desfuncionalização do termo que, contudo, não o desvincula, de todo, do senso de tempo e de lugar, referências ainda essenciais para o artista. |
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Bibliografia | ATHAYDE, F.: “Dios y el diablo en la tierra del sol: una película nacional popular”. Cine Cubano, n. 27, año 5, 1965.
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