ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Palmas para o espectador: reposicionamentos e mudanças comportamentais na recepção das imagens |
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Autor | Fernanda de Oliveira Gomes |
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Resumo Expandido | A noção de um ponto de vista privilegiado, associada a uma atividade mais efetiva do espectador, foi colocada em questão nas proposições do minimalismo e do teatro dos anos 60 e foi traduzida pela invenção de múltiplos dispositivos que autorizavam a simultaneidade das cenas, a dispersão dos locais de representação e a condução do espectador ao longo de um percurso. Segundo Anne-Marie Duguet (2008), da mesma forma, a instalação de vídeo propõe que o visitante se desloque em torno, diante, ou através da obra. Uma estrutura disponibilizada aos espectadores provoca a produção de imagens efêmeras a partir do comportamento coletivo.
Nos anos 60, a prática da videoarte começa a aparecer nas propostas de alguns artistas do Fluxus, como Nam June Paik e Wolf Vostell, que integraram o vídeo às suas performances, além de realizarem as primeiras instalações utilizando televisores. Ao invés de ser objeto que se apresenta no espaço de recepção como algo acabado, a obra de arte se lança nas modalidades de criação abertas que dominam a produção do vídeo: as instalações e as performances. Representar a si mesmo diante da câmera foi uma promessa que surgiu com o cinema e já exercia uma enorme atração sobre o homem moderno. Segundo Walter Benjamin, “o astro de cinema impressiona seu público, sobretudo porque parece abrir a todos, a partir do seu exemplo, a possibilidade de ‘fazer cinema’” (BENJAMIN, 1985, p. 182). A forma clássica da presença na tela é a forma da convocação, do compromisso de um ou de vários atores induzidos a ocupar uma cena. A principal tendência da videoarte que privilegia a presença do espectador é a construção de circuitos fechados com dispositivos de vídeo-vigilância. O espectador é situado na separação espacial entre filme e imagem projetada e na separação temporal entre a realização e a finalização do filme. É criada então uma simultaneidade espacial e temporal, na qual o espectador se torna espectador de si mesmo, transformando-se em um dos personagens da obra. A dissolução dos limites entre diferentes espaços de representação (cinema, vídeo, galeria), está implicitamente relacionada com a dissolução de papéis (espectador, diretor, ator) e de posicionamentos (tela, palco, platéia). Este processo se reflete artisticamente na proliferação de instalações interativas que convocam seus espectadores. Estes espectadores estão preparados para serem vistos e para se exibirem, pois já possuem esse olhar do outro introjetado. O olhar do outro em uma instalação interativa seria como um olhar mais ativo da câmera, que além de registrar as ações do sujeito em interação, também se apresenta como mais um estímulo. O espectador passa a perceber que estabelece relações enquanto apreende o objeto a partir de diferentes posições e sob condições variáveis. Assim, a exploração física se constitui como uma forma privilegiada de percepção da obra. As transformações perceptivas que a máquina eletrônica produz através da experimentação do espaço e do tempo, são possibilitadas por algumas operações que Anne-Marie Duguet (2008) aponta: jogos de registro ao vivo, alterações simultâneas e sutis do real imediatamente percebido, conexões entre o espaço virtual imaterial eletrônico e os espaços “reais” construídos como cenários da experiência, além da exploração do corpo do visitante como dispositivo que ativa a obra. Quando o espectador é instalado no centro da obra, ele é convidado pelo artista a adotar uma atitude diferente diante dela. Para Couchot (1997), é o corpo inteiro e não mais somente o olhar que se inscreve no espaço da obra, enquanto esta ganha em extensão e em relação. A significação da obra passa a depender da intervenção do espectador a partir da confrontação dramática com uma situação perceptiva. É aí que a obra se abre e o tempo de sua criação entra em sintonia com o tempo de sua socialização. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. Entre-Imagens: Foto, Cinema, Vídeo. Campinas: Papirus Editora, 1997.
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