ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A crítica de cinema nas revistas Veja e Bravo!: um estudo comparativo |
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Autor | Regina Lucia Gomes Souza e Silva |
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Resumo Expandido | Trata-se de uma investigação sobre a crítica de cinema produzida no Brasil, sobretudo no período chamado de Cinema da Retomada, e uma avaliação acerca desta prática discursiva que exerce enorme influência sobre o leitor. Pensamos aqui no discurso da crítica de cinema como um discurso altamente persuasivo e de aplicação de juízos de valor. A proposta da pesquisa objetivou refletir e comparar os discursos da crítica de cinema sobre filmes brasileiros publicados (entre os anos de 1997 e 2004) em dois periódicos de referência no Brasil: as revistas Veja e Bravo!.
Se para Chaim Perelman (1999) em todo discurso admite-se não uma lógica do verdadeiro, mas do preferível, David Bordwell (1991) reafirma a importância da retórica para a prática da crítica de cinema revelando como as categorias aristotélicas clássicas, Inventio, dispositio e elocutio estão fortemente presentes no discurso interpretativo dos críticos de cinema. A pesquisa identificou, nos textos dos críticos, marcas retóricas e de contexto que operaram como indicadores de expectativas de cada época e como parâmetros mobilizadores dos juízos de aceitação ou recusa dos filmes brasileiros exibidos num dado período. Em primeiro lugar, observamos um predomínio de juízos de valor favoráveis aos filmes do cinema da retomada em ambas as publicações. Dentre as 70 críticas analisadas, 49% delas emitiu um juízo positivo sobre os filmes, 32% produziu um julgamento intermediário e apenas em 19% das resenhas críticas verificamos uma avaliação essencialmente negativa das películas brasileiras. Esse resultado pode revelar uma mudança no discurso da crítica de cinema veiculadas nessas publicações que, a partir de meados dos anos 90, assistem ao crescimento das produções nacionais tanto em quantidade quanto em qualidade (técnica, para fugirmos das discussões subjetivas de gosto) das obras. Esta “virada” de perspectiva, portanto, acompanhou a própria evolução do cinema brasileiro. As variadas justificações para um valor acolhedor das obras do cinema nacional estão visíveis nos discursos das duas publicações, sejam as de ordem estética – investimento em bons roteiros, valorização do elenco, soluções criativas de montagem, qualidade de áudio e imagem, sejam as de ordem do conteúdo, como a sensibilidade no tratamento temático das obras. Já no que diz respeito às estratégias argumentativas utilizadas nos periódicos, chegamos a conclusão, do emprego recorrente de adjetivos e de argumentos de comparação, das chamadas ligações de coexistência, de argumentos de autoridade e da presença. O reforço ao ethos do filme, do diretor ou mesmo do crítico foi utilizado nas resenhas críticas sob forma de apelo à autoridade. A garantia de depoimentos “autorizados” de diretores de cinema, seu currículo e sua carreira com premiações em festivais na bagagem, e os críticos como conhecedores especializados da matéria, caucionaram a sustentação de juízo para convencer o leitor, em ambos os periódicos. Vale mencionar, ainda, que o universo dos filmes que suscitaram mais críticas nas duas publicações tem um perfil peculiar: são em sua maioria filmes que investiram em grandes campanhas de marketing e de grande repercussão na mídia por terem sido premiados em festivais nacionais e internacionais. Esses fatos demonstraram uma íntima relação entre a prioridade das agendas no jornalismo cultural (seja no mais massivo como na revista Veja, seja no mais especializado como na Bravo!) e as campanhas de marketing das produções brasileiras. Por fim, as marcas de contexto identificadas dizem respeito à percepção de mudanças no cinema brasileiro do período. Desde a constatação de que uma boa parte desses filmes rompeu com os vícios da produção na década de 80, produzindo boa adaptações de obras literárias, mas diversificando seus temas e investindo em bons roteiros, até a necessidade de uma revisão temática tendo muitas vezes o Cinema Novo como parâmetro para a discussão sobre a representação de um “falar nacional”. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Making meaning: inference and rhetoric in the interpretation of cinema. USA: Harvard University Press, 1991.
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