ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O cinema expandido de Peter Greenaway: The Tulse Luper Suitcases e a diluição dos limites da obra |
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Autor | Eduardo Cunha Bonini |
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Resumo Expandido | O projeto The Tulse Luper Suitcases do cineasta Peter Greenaway, lançado em 2003, veio ao Brasil trazido pelo próprio diretor, por advento de sua participação no 16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC Videobrasil, realizado em São Paulo, em outubro de 2007. Tratam-se, originalmente, de três longas-metragens, diversos websites, obras instalativas, produção bibliográfica de 92 livros, numerosos DVDs, um videogame on-line, VJ performances, peças teatrais e uma série de televisão, que pretendem reconstruir a vida de Tulse Henry Purcell Luper, projetista e escritor nascido em Newport, South Wales, cuja vida ele mesmo arquivou em 92 maletas, posteriormente encontradas ao redor do mundo. A história da vida do personagem é reconstruída e contada por pesquisadores, a partir das evidências encontradas em suas maletas.
A obra está condensada em três longas-metragens, onde podemos conhecer quem foi Tulse Luper, suas prisões ao redor do mundo, suas maletas e seu desaparecimento repentino. Porém, ela também se irradia por materialidades diversas, como é o caso da exposição contendo as 92 maletas com seus respectivos conteúdos, índices da existência do personagem, da performance de VJing, onde o diretor, com o advento de uma tela touchscreen, realiza diferentes montagens para o filme, de acordo com o seu desejo, ou mesmo os diversos sites espalhados pela internet, cada qual com um propósito diferente. Há também o jogo on-line, que convida o espectador a ser um pesquisador e abrir as 92 malas, repletas de aventuras e desafios. Duas características latentes deste projeto podem ser elencadas. Em primeiro lugar, a sua apresentação como um work in progress, dado o seu inacabamento em relação à proposta original e a multiplicidade de narrativas possíveis de serem construídas em suportes midiáticos e espaços diversos. A segunda característica é uma extensão simbólica da primeira, a constituição do projeto em forma de rede. A obra em si é uma rede, um emaranhado de materialidades, suportes midiáticos e espaços pelos quais a obra se expande e que dão suporte às diversas narrativas possíveis. Assim, os limites entre cinema, artes plásticas, mídias digitais e performances são diluídos e os próprios limites da obra se tornam imprecisos. Diante do inacabamento e da indeterminação de limites da obra, que possibilita várias manifestações potenciais, nos deparamos não mais com um objeto bem definido que se encaixa em no paradigma de uma simplicidade espitemológica, mas sim com um objeto que, como a própria natureza, se apresenta de forma complexa, exigindo leituras fragmentadas que não serão capazes de abarcá-lo por inteiro. Este novo contexto o qual Peter Greenaway nos apresenta, exige uma nova perspectiva crítica, que busque o entendimento da obra pelo viés do seu processo de criação. Assim haverá a possibilidade de encontrarmos os pontos de sustentação da obra, elementos comuns a todas as suas partes constituintes, que lhe conferem coerência e singularidade. É por meio de uma perspectiva interna ao processo operado pelo autor, que será possível identificar as conexões que a obra estabelece entre o cinema e as demais mídias, tanto materialmente quanto entre suas respectivas linguagens e assim lançar mão de uma leitura que busque iluminar toda a superfície da obra, tanto a externa quanto a interna. Para tanto, nos apoiaremos, em uma possível relação entre a crítica de processos (SALLES, 2006) e a ontologia sistêmica (VIEIRA, 2008; BUNGE 1977 e 1979) como sustentação teórico-metodológica, na literatura crítica acerca das obras de Peter Greenaway (MACIEL, 2004; COHEN 2008) e nos próprios textos produzidos por ele (GREENAWAY, 2004 e 2007). |
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Bibliografia | BUNGE, M. Treatise on Basic Philosoph – Vol 3. Dordrecht: D. Reidel Publ. Co., 1977.
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