ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O Gênero Viagem na Revista Cinearte no Período do Cinema Silencioso |
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Autor | Samuel Paiva |
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Resumo Expandido | Alguns estudos de cinema voltados ao período silencioso têm revelado a importância do gênero viagem no contexto de experiências cinematográficas que, não por acaso, coincidem com o colonialismo característico da “era dos impérios”, na transição do século XIX para o século XX (HOBSBAWN: 1992). Existe, nesse sentido, uma correspondência entre a “apropriação material” (territorial, das riquezas naturais, etc.) e a “apropriação simbólica” (dos corações e mentes) que Europa e Estados Unidos empreendem em seus projetos imperialistas (COSANDEY; ALBERA: 1992). Em tal perspectiva, o cinema tem um papel fundamental, enquanto instrumento de propagação de valores culturais em perspectiva transnacional. E a viagem revela-se como um tropo fundamental desse investimento, ao explicitar as tensões em jogo nos contatos entre os envolvidos, “ocupantes” e “ocupados” (GOMES: 1980).
Os estudos de gênero no cinema podem se constituir justamente como um lugar privilegiado às diversas interrogações acerca dos efeitos sociais, políticos, econômicos, previstos na circulação midiática no mundo (BERNARDET: 1995). Tais interrogações aqui serão direcionadas a uma publicação que se constitui como um marco fundamental da compreensão sobre o cinema no Brasil, inclusive considerando-se suas alteridades internacionais. Trata-se da revista Cinearte, lançada em 1926 e publicada até 1942. Dirigida por Adhemar Gonzaga e Mário Behring, essa publicação promovia o cinema hollywoodiano no Brasil, mas, além disso, “dedicava regular espaço à técnica cinematográfica, ao cinema educativo e ao cinema brasileiro, procurando exercer o papel de formadora de opinião e disseminadora da cultura cinematográfica no país” (RAMOS: 2000, p. 126). Cinearte também está diretamente envolvida com o surgimento de experiências de interesse industrial no cinema brasileiro, notadamente a Cinédia, empresa fundada em 1930 por Gonzaga, a qual terá uma produção considerável de filmes de gênero, por exemplo, musicais carnavalescos. Esta comunicação, contudo, pretende se deter na década de 1920, portanto, no período do cinema silencioso. Isto porque se pretende explorar o que seria a formação de um pensamento, encontrado em uma publicação-chave naquele momento, Cinearte, justamente acerca dos gêneros cinematográficos, muitas vezes vinculados às concepções industriais de cinema. O interesse específico pela viagem justifica-se, no caso, por ser este um aspecto ainda pouco discutido em termos de cinema no Brasil e, além disso, porque, como diz Octavio Ianni, “a viagem desvenda alteridades, recria identidades e descortina pluralidades” (2000, p. 14). Diante de tal quadro cabe observar, como hipótese, que Cinearte não trata o gênero viagem de forma fechada, exclusiva ou claramente definida. Até por isso o método para interrogá-la a esse respeito pode prever uma certa abertura de abordagem, partindo do pressuposto de que os gêneros são híbridos, não têm identidades e fronteiras estáveis, exigindo justamente por isso um aprofundamento histórico preciso, de modo a localizar as experiências em objetos e recortes bem determinados. Como propõe Rick Altman, de todas as idéias sobre o cinema, poucas são tão unânimes quanto ao fato de que The great train robbery (Edwin S. Porter, 1903) é o primeiro western do cinema (ALTMAN: 2000, p. 61). Entretanto, como afirma o autor, esse filme foi concebido e era direcionado ao público como um filme policial e estava associado ao interesse de Porter por filmes de trem, como Romance of a trail (Edwin S. Porter, 1903). Atento, portanto, à necessidade da pesquisa histórica, o projeto da comunicação sobre "o gênero viagem na revista Cinearte no período do cinema silencioso" pretende abarcar múltiplos interesses, – estéticos, políticos, econômicos, etc. – todos, contudo, pesquisados na chave de uma concepção cinematográfica revelada pelos editores, críticos e redatores da revista em questão. |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick. Los géneros cinematográficos. Trad. Carlos Roche Soárez Barcelona, Buenos Aires, México: Paidós, 2000.
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