ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Em busca das imagens esquecidas – o trabalho de arquivo em Chris Marker |
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Autor | Emi Koide |
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Resumo Expandido | Desde os livros da coleção Petit Planète (1954-1958)− livros de viagem, em que cada volume era dedicado a um país, mas de modo muito distinto e atípico do que conhecemos como guia de viagem ─ sob direção de Chris Marker, o uso de imagens de arquivo proveniente das mais diversas fontes já se faz presente. Histórias em quadrinhos, fotografias da imprensa, imagens da história da arte, stills de filmes, criam novas relações de sentido em conjunto com o texto. Recuperando constantemente seus próprios filmes e fotografias, Marker faz emergir novas tensões e relações, como na exposição de fotografias intitulada Staring Back (2007), em que stills de seus próprios filmes, tais como como Joli Mai (1962), La sixième face du Pentagone (1968), Le fond de l’air est rouge (1977) – que por sua vez também retoma imagens do filme anterior −, Chats Perchés (2004), dentre outros, são retrabalhados e manipulados digitalmente e apresentados como fotos. Sobre tal processo, Marker em e-mail enviado ao curador Bill Horrigan, diz que ele realiza há anos experimentos com imagens da televisão e de vídeos diversos, na tentativa de encontrar e “extrair imagens significativas do fluxo ordinário” (Marker apud Horrigan, 2007: p. 138), criando os conceitos de “imagem subliminal” – que seria um “frame perdido num fluxo de diferentes frames” – e “imagem superliminal” – que por sua vez, seria “um frame perdido num fluxo de outros quase idênticos” (Ibidem). Tais fotogramas que seriam imagens despercebidas ao próprio autor , enquanto imagens superliminais, formam o conjunto de imagens desta exposição, na qual uma outra história em constelação se cria, relacionando os momentos distintos da história à atualidade. Um imenso arquivo de fotos, imagens manipuladas e trechos de filmes se encontram também no cd-rom Immemory (1997).
Se em Staring Back partiu-se do cinema e da imagem em movimento em direção à fotografia, à fixidez de um fotograma, o caminho inverso se faz presente desde La jetée (1962), passando por Si j’avais quatre dromadaires (1966) e Le souvenir d’un avenir (2001). Filmes realizados com stills, sendo que os dois últimos com imagens de arquivos. Em Si j’avais quatre dromadaires são inúmeras fotos de Marker tiradas em diferentes lugares do mundo que compõem o filme, a montagem associa imagens heterogêneas a partir de suas qualidades formais ou pelo próprio comentário que anuncia temas por aproximações. Já em Le souvenir d’un avenir, realizado com Yanick Bellon, ele rearranja as fotos tiradas pela fotógrafa Denise Bellon nos anos 30, de modo que as imagens ao mesmo tempo em que testemunhavam o mundo do pós Primeira Guerra, eram também aquelas de uma pré Segunda Guerra, anunciando, sem que se soubesse, os horrores que se seguiriam, pois, “o passado decifra um futuro”. Em sua recuperação de imagens de arquivo, sejam estas provenientes de sua própria produção ou de outrem, Marker procura sinais latentes ou perdidos que anunciam eventos e relacionam-se de maneira a suscitar novas significações e interpretações da história. No que diz respeito à realização de Le fond de l’air est rouge (1977), remontado algumas vezes depois, trata-se de um filme que traz uma espécie de balanço dos movimentos sociais e políticos que marcaram os anos 60 e 70, a partir de um extenso e variado arquivo de imagens. Marker (1978: 5) nos diz que o primeiro projeto buscava o que haveria de comum nas imagens esquecidas, recalcadas – “estas seqüências montadas que em certo momento desaparecem da montagem, estes ‘não utilizados’”. Ele comenta também que um outro conjunto de imagens recalcadas, mas estas oriundas da televisão − ou seja, imagens gastas, conhecidas e midiatizadas, que se substituem umas às outras, caindo depois no esquecimento – que em conjunto com as imagens desconhecidas, descartadas, formariam a dialética constitutiva do filme, apresentando uma “história polifônica” que mobilizasse o espectador para que este criasse seu próprio comentário acerca das imagens. |
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Bibliografia | ALTER, Nora. (2006). Chris Marker. Chicago : University of Illinois Press.
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