ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Cinemateca Brasileira: um incendiário processo de federalização |
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Autor | Jose Eduardo Bozicanin |
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Resumo Expandido | Meu artigo analisa quais foram as políticas públicas que influíram na Fundação Cinemateca na década de oitenta: “época de fatos cascudos em tempos bicudos”. Meu marco inicial é o conhecido incêndio ocorrido no sábado, dia 6 de Novembro de 1982, e o ponto de encerramento é a mudança da sede e dos depósitos dessa instituição, com a cessão de uso da área do antigo Matadouro Municipal, para a Vila Clementino e o restauro destas dependências.
Dentro da longa e interessante história de relacionamentos, e de problemas com as secretarias públicas de cultura procurei privilegiar a coleta de dados de 1984, ano em que efetivamente se dá a vinculação-extinção da Fundação à Fundação Nacional Pró-memória. Esse tipo de constituição ligou a Cinemateca ao Ministério da Educação e afastou, de vez, o velho fantasma de sua ingerência financeira. Descobri durante a pesquisa que existiram alguns entraves judiciais provenientes de preocupações, por parte de alguns proeminentes políticos, sobre a questão da autonomia institucional da Fundação; preocupações estas, advindas por causa de decretos das gestões de Paulo Salim Maluf e André Franco Montoro, no governo estadual, e que tornavam os estatutos das fundações mais suscetíveis a “atentados”. O contexto político da época foi agitado e vários aspectos políticos - das três esferas de poder - influíram na questão. Vale ressaltar que, existiram hábeis artífices que influíam em várias esferas do poder ao mesmo tempo e que brilhantemente conseguiram desfazer os entraves processuais, trazendo soluções e deixando saldos positivos de realizações em suas gestões: Carlos Augusto Calil - diretor da EMBRAFILME em 1984 e membro diretor da Cinemateca, e a escritora e presidente da Fundação Lygia F. Telles (esposa de Paulo Emílio Salles Gomes, ex-presidente da entidade) foram exemplos de bons gestores. Afirma-se com segurança que várias figuras e forças políticas tiveram papel fundamental nas articulações oficiais, para que o processo de vinculação saísse do âmbito das promessas e se consumasse como fato, e para que também verbas fossem liberadas. Lembro aqui que no decurso de 1984-85, durante a vigência do mandato do presidente Gal. João Baptista Figueiredo e do governador André Franco Montoro, houve eleições para a prefeitura do município e que “tirar da gaveta” um projeto como esse, o da Federalização, atraiu a atenção de muitas personalidades. Deduzo pelos fatos e dados recolhidos que em 1984, após o último grande incêndio da Cinemateca, chegou-se ao limite do intolerável. Era insustentável a posição na qual a Fundação se encontrava financeiramente, a salvaguarda e a conservação do patrimônio fílmico nacional estavam em sério risco. Notei que, de fato, os descasos do Estado e as promessas de dotações não cumpridas repercutiram mal na mídia nacional e, também, internacionalmente, a própria FIAF (Fédération Internationale des Archives du Film - um dos órgãos internacionais reguladores de cinematecas) interveio junto ao British Film Institut para que ocorresse uma doação de filme virgem à Cinemateca, para a passagem de certos títulos em suporte de nitrato para suporte de acetato. |
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Bibliografia | ALMEIDA, José Augusto Lemos de. Nova legislação cinematográfica nacional; resoluções do Concine. Rio de Janeiro: Forense, 1987.
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