ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Para além dos gêneros: humor e amor em filmes de bordas |
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Autor | Rosana de Lima Soares |
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Resumo Expandido | A proposta tem como objetivo estabelecer relações entre um possível cinema de bordas como gênero no cinema brasileiro, por meio dos filmes híbridos e das imagens impuras que o constituem, e as configurações que uma forma genérica específica – as comédias românticas – adquirem quando articuladas em filmes de bordas. Dessa forma, será desenvolvida em duas etapas: na primeira parte, apresentaremos algumas perspectivas nas quais pensar o conceito de gêneros cinematográficos, dando destaque às comédias românticas para além de suas definições convencionais; na segunda, buscaremos mostrar como se operam, em filmes de bordas, a manutenção e a subversão das formas genéricas anteriormente abordadas.
Definimos uma vez mais o conceito de bordas como um gênero constituído por diversos outros e, ainda assim, distinto das categorias de paracinema ou cinema trash, bem como de gêneros considerados menos reconhecidos pela crítica, tais como terror ou faroeste. Nos filmes de bordas, as formas genéricas aparecem mescladas e, ao fazê-lo, transitam pelas brechas da cultura midiática, rompendo as fronteiras entre “cinema de autor” e “cinema de gênero”, ou entre “filmes de arte” e “filmes populares”. Ao mesmo tempo, notamos que os filmes de bordas possibilitam o questionamento dos modos de operação dos circuitos de legitimação das obras cinematográficas, e dos procedimentos a partir dos quais tal legitimação se estabelece, retomando análises anteriormente realizadas (XII Socine, 2008). Iremos, portanto, buscar os critérios de legitimidade cultural e hierarquia crítica que acompanham a produção cinematográfica brasileira e que estabelecem, a cada momento, os “cânones” e as “bordas” de tal produção. Tal movimento visa delimitar as fronteiras do que chamamos de “filmes periféricos de bordas” (XI Socine, 2007), em que formas periféricas do cinema de gêneros produzido no Brasil – tanto em termos de seus modos de produção como de suas formas de criação e circulação social – são tratadas a partir de realizadores regionais. No caso específico desta comunicação, o objetivo será apontar como filmes periféricos de bordas – em sua maioria articulados em torno do par comédia/romance – estabelecem pontos de contato e ruptura com as comédias românticas. Estas serão tomadas tanto em sua forma convencional bem como nas já consagradas variações que lhes são atribuídas. Ao contrário de classificações estanques, tais filmes transitam entre humor/amor incorporando e reciclando seus elementos definidores. Se considerarmos uma filmografia central como a norte-americana (em relação a uma suposta “periferia do cinema” na qual se encontra também o Brasil), veremos que a mistura desses elementos nas comédias românticas resulta em uma vasta produção, genericamente agrupada sob a mesma rubrica. Ou seja: a partir de uma caracterização genérica, propomos a análise de filmes periféricos de bordas cujos elementos narrativos, estéticos e tecnológicos podem ser pensados em torno de fragmentos (re)apropriados de um gênero híbrido desde sua definição. Também no conjunto da cinematografia brasileira, há um tipo peculiar de filmes que misturam fragmentos de gêneros, sem que, no entanto, tais modelos genéricos se apresentem determinantes. Neles, os gêneros são dispostos de tal forma que escapam a qualquer tentativa de classificação, uma vez que não é a presença genérica que os modela, mas o modo cinematográfico como os elementos são distribuídos. A esse tipo particular de filmes, que também existe em outras cinematografias (e em outros campos de estudo, como literatura e psicanálise), chamamos de cinema de bordas. Vale notar que o processo de re-conhecimento/des-conhecimento dessa mescla de fragmentos (e suas possíveis variações) contribui para pensarmos o cinema brasileiro para além de sua usual percepção como se fosse um bloco homogêneo. Além disso, o próprio gênero privilegiado possui marcas que o colocam em lugar periférico em relação à produção cinematográfica dominante. |
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Bibliografia | ALTMAN, R. Film/Genre. London: British Film Insitute, 2004.
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