ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O cinema de Líbero Luxardo: uma narrativa da nação e do povo brasileiro |
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Autor | Maria Ignês carlos Magno |
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Resumo Expandido | É sabido que os conceitos de povo, de estado, de nação e de identidade não são apenas temas de um repertório sociológico, antropológico ou político de uma época, mas construções discursivas forjadas e (re)tomadas historicamente como parte de uma complexa estratégia para a construção de referências sociais e políticas. A título de exemplo, quando recuperamos o percurso dessas construções, tomamos conhecimento que, até 1726, pátria ou terra “era o lugar onde se nascia” e nação significava simplesmente “o agregado de habitantes de uma província, de um país, de um reino e também um estrangeiro” (Hobsbawm, 2001, p. 30), e que, entre 1830 a 1880, os significados de nação, povo e identidades foram redesenhados juntamente com o mapa da Europa resultando no que modernamente passou a ser equalizado: “nação=estado=povo e, especialmente, povo soberano, vinculou indubitavelmente a nação ao território [...]” (Hobsbawm, 2001, p. 32). Redesenho europeu para justificar os triunfos da burguesia e do capitalismo, no Brasil, o século XIX representaria o início de intensos debates em torno daquelas questões e de estudos sobre a formação do povo, da cultura e da identidade brasileira. Debate ao mesmo tempo antigo e atual, é importante ressaltar, como nos coloca Ortiz, que as questões referentes à identidade nacional e à cultura brasileira ainda são políticas e estão “ligadas a uma constante reinterpretação do popular pelos grupos sociais e à própria construção do Estado brasileiro” (2003, p. 8). Se no final do século XIX, o Brasil era visto e estudado como um caso de total miscigenação racial que explicava, em diferentes discursos científicos, tanto nossa singularidade como nosso atraso frente às demais nações então constituídas e entendidas como viáveis, interessa-nos acompanhar como essas discussões e representações de povo, de nação e de identidade ocorreram nos campos da ficção, tanto literária como cinematográfica, especialmente, aqui, em uma delas: o filme Alma do Brasil (1932), de Líbero Luxardo.
Luxardo, no intuito de reconstituir a história da derrota dos soldados brasileiros na Guerra do Paraguai, parte do livro homônimo de Visconde de Taunay, que narra o trágico episódio da Retirada da Laguna nos campos do Mato Grosso em 1867, durante a Guerra do Paraguai, ao mesmo tempo em que registra as manobras dos soldados comandados pelo general Bertoldo Klinger, de Mato Grosso até Laguna, em 1930. Objeto de uma pesquisa em andamento, realizada pelo Grupo de Pesquisa Tecnologias dos audiovisuais e sociedade, o cinema de Líbero Luxardo, em especial o filme Alma do Brasil, foi escolhido porque nos permite, simultaneamente, discutir o filme como um dos espaços de produção de sentidos e apreender, no entrecruzamento que o cineasta faz entre dois momentos históricos, 1867 e 1932, os conceitos de nação e de povo brasileiro naqueles anos. Seguindo as estratégias de montagem utilizadas por Luxardo para construir as representações de uma imagem do povo e da nação, as análises terão como fio condutor as discussões teóricas atuais sobre nações, culturas e identidades, mas terá também como um de seus focos principais os teóricos, as teorias e as análises desenvolvidas sobre os conceitos de nação, cultura e identidade nos anos de 1857 e 1932. Nesta perspectiva, o texto dialogará com autores como Hommi Bhabha, Stuart Hall, Akhil Grupta, Eric Hobsbawm, Antonio Candido, Renato Ortiz, Silvio Romero, Paulo Prado, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Muniz Sodré, entre outros. No tocante ao cinema brasileiro, os estudos de Alex Viany, Paulo Emílio Salles Gomes, B.J.Duarte, Maria Rita Galvão, Jean-Claude Bernardet, além dos estudos atuais sobre o cinema brasileiro serão referências na pesquisa. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. GLAVÃO, Maria Rita.O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira. SP:Brasiliense,1983.
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