ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Videogramas de uma Revolução: o Acontecimento pela Imagem |
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Autor | Julia Gonçalves Declié Fagioli |
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Resumo Expandido | Com o desenvolvimento da imagem eletrônica tornou-se viável o armazenamento de imagens televisivas. A imagem eletrônica, de acordo com Ivana Bentes (2003), permite uma coincidência entre o real e a sua encenação, uma imagem sem interrupções que resulta no “efeito ao vivo”. Isso se dá porque ao vivo o resultado é imprevisível, o material é “impuro”. É intrigante observar que a atualidade e o tempo presente – na simultaneidade entre a captação e a exibição da imagem – são características comumente observadas na produção televisiva.
Essa característica se intensifica num contexto de grande envolvimento com meios de comunicação e informação. Jean-Paul Fargier (2007) levou adiante a noção de aldeia global proposta por Marshall McLuhan ao atribuir à televisão esse fenômeno. Nesse sentido, a imagem ao vivo é fundamental e, além disso, implica uma visão mais crítica repercutindo em efeitos políticos. No entanto, não só o material gravado da televisão incorpora elementos da imagem ao vivo. Regina Mota (1999) indica a possibilidade do ao vivo proporcionar renovação ao cinema. A memória e a lembrança estão presentes na imagem em tempo real, aspecto explorado no cinema, porém, característico da televisão. Fargier classifica a televisão como uma máquina que reproduz o presente e ressalta a capacidade do meio de tornar-se arquivo e memória. Já o cinema, ao incorporar a imagem ao vivo, se apropria do acontecimento real, tornando-a um testemunho. Nesse tornar-se arquivo da imagem, os acontecimentos passam a existir apenas através dela, como analisa André Brasil (2008). Este autor afirma ainda que, hoje, a história se faz ao vivo, e que cada vez mais os acontecimentos são indissociáveis da imagem e da mídia. Pode-se notar de forma nítida a incorporação das imagens ao vivo pelo cinema, por exemplo, no filme-ensaio Videogramas de uma revolução (Alemanha, 1991/1992), de Harun Farocki e Andrei Ujica. O filme conta a história da queda do ditador romeno Nicolae Ceausescu, ocorrida em dezembro de 1989, através de um vasto repertório de imagens de arquivo. Além das transmissões da televisão, essa análise televisual é feita através de uma reunião de imagens gravadas por cinegrafistas amadores que reconstituem o evento. De acordo com Christa Blümlinger (2008), ao mesmo tempo em que analisa o passado, Farocki explora as forças simbólicas do presente. Percebe-se que, no cinema, também é possível desenvolver um tipo de pensamento ao vivo, atrelado ao acontecimento. O trabalho de Farocki deixa claro que a política se dá pela visibilidade, uma vez que os acontecimentos se desenrolam a partir de um pronunciamento do ditador transmitido ao vivo pela emissora de TV do país, que à época era controlada pelo Estado. Nesse pronunciamento, ocorrido no dia 21 de dezembro de 1989, manifestantes contrários à ditadura aproveitam a ocasião para realizar um protesto, fazendo com que as câmeras percam o motivo frente ao imprevisto. Imediatamente é interrompida a transmissão para evitar que algo inadequado seja visto. É a partir daí que Farocki inicia sua análise, retomando imagens de arquivo e contrapondo a imagem interrompida com aquela contínua. Além disso, a tomada da emissora de TV pelos manifestantes reafirma a necessidade da imagem para que o acontecimento se torne real. Jean-Louis Comolli (2008) oferece uma valiosa contribuição ao explicar que o documentário é realizado em atrito com o mundo, de forma a produzir um testemunho e deixar vestígios. O autor diz ainda que uma imagem real e em tempo real cria uma disputa por legitimidade, oportunidade e propriedade, tornando-se uma questão política. O documentário é uma reescritura do mundo, o que suscita diversos questionamentos. Como o cinema se apropria da imagem real, ao vivo? O acontecimento é indissociável de sua imagem? Quais são as consequências estéticas e políticas desse tipo de produção? A partir de um estudo de caso individual, o filme-ensaio Videogramas de uma revolução busca-se responder a essas questões. |
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Bibliografia | BRASIL, André. Ensaio de uma revolução. Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/videogramas.htm. Acesso em: 16 set. 2008.
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