ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Árido Movie e Deserto Feliz: por uma musicalização da montagem |
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Autor | Amanda Mansur Custódio Nogueira |
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Resumo Expandido | Resultado da articulação do grupo de cinema de Pernambuco com os músicos do movimento manguebeat, ainda na década de 80, a exibição da música é uma das marcas do cinema produzido no Estado. O “contágio” entre as produções, audiovisual e musical, já começa a se dar na realização dos primeiros videoclipes das bandas mais representativas da cena mangue. Nesse contexto, a experiência de cooperação mútua entre os cineastas e músicos (nos videoclipes, curtas e documentários), desencadeou uma maneira de realizar filmes narrativos que exploram, de modo deliberado, todo o potencial e referências de um universo musical compartilhado.
Inventividade e inovação, diversidade estilística, as trilhas sonoras dos filmes Árido Movie (2006) e Deserto Feliz (2007) buscam uma composição pop universal com uma pitada do tempero regional, na qual a exploração das relações entre imagem e música é deliberadamente potencializada. A mimetização do manguebeat, inspirou entre os diretores oriundos de Pernambuco, Paulo Caldas e Lírio Ferreira um cinema mais “musical”, gerando uma nova sensibilidade para trabalhar os fenômenos sonoros nos seus filmes de ficção. Graças à articulação entre realizadores e músicos, o universo do manguebeat reaparece na adoção de uma certa ostentação musical ou, em outros termos, exibição da música (a música como regente dos procedimentos de articulação das linguagens). Nos filmes Árido Movie e Deserto Feliz, observamos, recorrentemente, a existência de seqüências que poderíamos chamar de “momentos musicais”. Essas seqüências podem estar incorporadas ao enredo (como parte do percurso narrativo geral) ou podem ser dotadas de maior autonomia em relação à própria ação dramática (marcadas por um certo “deslocamento” do enredo). Em uma ou outra situação, as seqüências se caracterizam por atualizarem momentos “pop’ em que o filme pára, em função de mostrar a música (exibir). Nos “momentos musicais”, o tratamento conferido à música nos filmes é comparável ao que ela merece em musicais e videoclipes. Nesta comunicação trabalhamos com a hipótese de que a música, ao ser exibida nesses filmes, chega a deter o desenvolvimento da ação dramática, provocando quase uma “paralisação” do percurso narrativo ou, em outros termos, fazendo a própria história esperar um pouco para avançar em prol de uma determinada atuação ou performance musical. Com isso, a música chama atenção sobre si mesma e ganha um estatuto, nesses filmes, muito mais especial. Diferentemente dos filmes narrativos em geral, nos “momentos musicais” do Deserto Feliz e Árido Movie a música não fica em segundo plano, nem é tão somente uma trilha sonora sem a preocupação de tornar a retórica musical reconhecível pelo espectador (MACHADO, 1997, p. 152). Ao analisar os filmes, encontramos seqüências em que os fenômenos de exibição da música são mais evidentes pelos procedimentos da montagem técnica (a música rege o ritmo dos cortes e a duração dos planos) e linguagem de câmera (caracterizada por um virtuosismo imagético). A trilha sonora é o meio de articulação entre os vários elementos expressivos. É também um elemento privilegiado na construção espaço-temporal e na proposição de organizações temáticas. Entre os usos esperados e inesperados da articulação entre os fenômenos visual e sonoro, desenvolve-se uma montagem mais musical na filmografia de Paulo Caldas e Lírio Ferreira. A articulação entre música e imagem é um procedimento geral do cinema, que inquietava os cineastas desde antes do advento do filme sonoro, como bem demonstram as proposições precursoras de Eisenstein sobre o sincretismo de linguagens (cf. FECHINE, 2009). Entretanto, o que nos chama atenção nestes filmes é a intensidade e freqüência com que os procedimentos de articulação entre linguagens são usados no enredo dos filmes pernambucanos com uma regência clara da música nos arranjos de sincretização. |
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Bibliografia | CHION,Michel (1990). L’Audio-Vision - son et image au cinéma). Éditions Nathan, Paris 1990. Nathan-Université, série «Cinéma et Image», Paris, rééd. Armand-Colin
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