ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | O diretor enquanto autor: relacionando a obra de Cláudio Assis com as noções de autoria no cinema |
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Autor | Michael Peixoto |
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Resumo Expandido | O presente artigo faz parte da pesquisa de mestrado em desenvolvimento pelo autor no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília. Tal pesquisa propõe uma discussão crítica sobre a importância da questão autoral no cinema, tendo como foco o cenário nacional contemporâneo. Este estudo parte da declaração de um grupo de cineastas nordestinos que se autointitulam autores de cinema. O grupo é formado por Cláudio Assis, Karim Aïnouz, Marcelo Gomes, Sérgio Machado, Lírio Ferreira e Paulo Caldas, diretores que estrearam em longa metragem no período chamado de Retomada (após 1995) e que defendem um cinema coletivo no fazer, mas que se individualiza nas ideias com uma perspectiva autoral.
Tendo em vista que a maior referência conceitual de autoria no cinema já carrega consigo mais de cinquenta anos, busca-se aqui refletir sobre as possibilidades de atualização deste conceito, assim como questionar validade da “retomada do autor” realizada por este grupo de cineastas em um momento de transição do cinema “tradicional”, no qual este confronta-se com as novas tecnologias digitais e o rompimento de fronteiras entre suportes, pensando em um campo mais vasto: o audiovisual. Neste artigo investigo os pontos de ligação entre a proposta dos cineastas brasileiros e as noções clássicas que envolvem o conceito de autoria no cinema. Tal relação será feita a partir dos filmes em longa metragem de Cláudio Assis: “Amarelo Manga” (2002) e “Baixio das Bestas” (2006). Alguns pontos me levaram a escolher Assis como centro deste artigo, entre os quais os temas polêmicos presentes em seus filmes (necrofilia, estupro, violência contra a mulher, morte de animais). Ainda que se passem em ambientes opostos (no caos da capital recifense e na inércia da zona da mata pernambucana), apresentam semelhanças tanto temáticas quanto estéticas. Outro ponto que destaco é a presença do diretor como personagem em um dos filmes. Em “Amarelo Manga”, Cláudio Assis faz uma aparição relâmpago, porém com a intenção muito distinta da consagrada por Alfred Hitchcock de aguçar os olhos dos cinéfilos ao procurá-lo pela tela. Assis aparece rapidamente, mas em uma frase sintetiza a matriz do filme: “O pudor é a forma mais inteligente de perversão”, diz ele à personagem beata. A presença de um diretor que se diz autor e que atua como um personagem que “vê” acima dos outros, dialoga com várias ideias relacionadas à autoria na história do cinema. Três momentos são abordados neste artigo: a política dos autores, que estabeleceu uma série de bases para se pensar a autoria cinematográfica; o Cinema Novo, que segundo Ismail Xavier (2005) é a versão brasileira da política dos autores; e o cinema de poesia defendido por Pasolini, que traduz a visão de mundo e das coisas do diretor-autor através do recurso da subjetiva indireta livre. A análise dos dois filmes de Cláudio Assis, relacionando-os com os pressupostos autorais defendidos nesses três momentos, nos ajuda a pensar o que há de novo na proposta de autoria dentro do cenário brasileiro contemporâneo. Com esse objetivo, destaco três categorias de análise: os temas (uma das ideias centrais da política dos autores); o cenário social (base do Cinema Novo) e o ponto de vista do qual é contada sonora e imageticamente a história (cinema de poesia). Para tanto, utilizo autores como Jean-Claude Bernardet; François Truffaut; Jean-Luc Godard; Ismail Xavier; Glauber Rocha; Pier Paolo Pasolini e Lúcia Nagib, entre outros. São assuntos que permeiam a discussão principal: a noção de complementaridade entre arte e indústria no cinema, defendida por Edgar Morin; a relação entre o autor literário e o autor cinematográfico problematizada por Jean-Claude Bernardet; assim como a banalização da ideia de autoria na década de 1960 e a hibridização dos suportes e das estéticas, teorizada por Jean-Claude Carrière e Arlindo Machado. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude (1994). O autor no cinema. São Paulo: Brasiliense.
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