ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | A Língua Portuguesa na contemporaneidade a partir da obra de Manoel de Oliveira: Um filme falado |
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Autor | Wiliam Pianco dos Santos |
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Resumo Expandido | Nos inúmeros e complexos episódios que consolidaram as civilizações ao longo da História, há uma certa predominância da chamada civilização ocidental sobre as demais, percebendo-se em tal ponto de vista uma dimensão de eurocentrismo, que vários autores interessados na questão da globalização passam a criticar. Diversos aspectos relacionados a isso estão presentes no longa-metragem Um filme falado (2003). Trata-se de uma obra que pode ser pensada como uma “alegoria histórica” (XAVIER: 2005), na medida em que se constitui como um discurso cuja enunciação nem sempre aponta para significados evidentes, trabalhando em contrapartida com sentidos ocultos, disfarçados e enigmáticos.
Sua breve sinopse remete a tal discussão: no ano de 2001, Rosa Maria (uma portuguesa, professora de História) viaja pelo Mar Mediterrâneo com sua filha, em direção à Índia. Durante a viagem, elas visitam locais emblemáticos da constituição de civilizações ocidentais e orientais. Partindo da cidade do Porto, passam por Marselha, Nápoles, Pompéia, Atenas, Istambul, Cairo e Aden. No trajeto, ganham destaque, contudo, personificados como alegorias nacionais, o Comandante do navio, um norte-americano, e três mulheres que também estão no cruzeiro, a saber: Delfina, uma francesa; Helena, uma grega; e Francesca, uma italiana. Em seu percurso, Rosa Maria conversa ora em francês, ora em inglês, com os indivíduos com que se depara. Pensando nisso, são relevantes as seqüências relacionadas aos jantares que ocorrem no navio: o Comandante sempre convida à sua mesa as três mulheres que são célebres. Nesse “diálogo extraordinário” (como diz ele), cada um fala na sua língua natal e, mesmo assim, todos se entendem perfeitamente. Já em outra seqüência, quando as portuguesas também são convidadas, a situação se modifica. Como só ele compreende um pouco do idioma português, a conversa precisa ocorrer por meio de uma língua que seja falada e compreendida por todos. No caso, o inglês. Tal situação implica em um debate acerca do poder das nações, a dominação ou sobre os interesses comuns entre diversos países, em um contexto que remete a panoramas étnicos e ideológicos. O filme propõe uma reflexão, sobretudo, acerca do papel histórico da língua portuguesa no mundo. Além de Portugal, hoje esse idioma é oficial em países como Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Nesse sentido, o pensamento cinematográfico de Oliveira constitui uma base de fundamentação considerável para a compreensão de questões nacionais e internacionais, as quais dizem respeito diretamente ao Brasil, inclusive naquilo que Portugal e a língua portuguesa se relacionam com o passado colonial e imperial dos brasileiros. Também remete às perspectivas do “multiculturalismo policêntrico”, enquanto possibilidade de construção de um debate direcionado à crítica das relações de poder, de tal modo que torna promissora a interação, por exemplo, entre os integrantes da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), citados anteriormente. A alegoria em questão remete a um pensamento crítico sobre a contemporaneidade, compreendida em perspectiva histórica. Seu discurso implica um impulso de um momento anterior da História que acaba por comunicar um sentimento de crise devido à presença (decaída) do passado no presente. Assim, Oliveira visa reler o passado histórico das civilizações para expressar as problemáticas existentes no contemporâneo, lançando mão da alegoria histórica e relacionando-se com a crítica ao eurocentrismo. O interesse deste projeto de pesquisa diz respeito ao cinema como experiência de conhecimento; Com a construção de um saber que possa resultar em uma intervenção em debates culturais, políticos e econômicos, sobretudo no que diz respeito a países do chamado Terceiro Mundo que têm em comum um passado colonial vinculado a Portugal, os quais hoje constituem uma comunidade internacional orientada pelo esforço de uma colaboração solidária. |
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Bibliografia | APPADURAI, Arjun. Disjunção e diferença na economia cultural global. In: FEATHERSTONE, Mike (org.). Cultura global. 3ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
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