ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Desejo pós-colonial. Raça e sexualidade no cinema britânico dos anos 1960 aos 2000 |
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Autor | Angela Freire Prysthon |
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Resumo Expandido | O objetivo deste paper é, a partir da tradição realista do cinema britânico, verificar as transformações no discurso e nas imagens sobre raça e sexualidade ao longo da segunda metade do século XX, a partir de análises pontuais de filmes de Tony Richardson, Stephen Frears, Ken Loach, Udayan Prasad e Gurinder Chadha.
A história do cinema britânico sugere, às vezes de modo muito direto e enfático, que há elos intrínsecos entre racismo e sexualidade. Essa história também aponta que os anos 60 já traziam mudanças importantes na representação das relações interraciais, sobretudo a partir de um filme como “Um gosto de mel” (Tony Richardson, 1962), que coloca o desejo entre a branca Jo e o negro Paul de maneira complexa e delicada. Em contraponto a cineastas mainstream como David Lean em "Passagem para a Índia"(1984) ou James Ivory em "Heat and Dust" (1983) - que tratam a temática colonial a partir do clássico relato eurocêntrico -nos anos 80 busca-se a problematização pós-colonial no cinema: o caso mais emblemático é da colaboração entre o diretor Stephen Frears e o roteirista Hanif Kureishi. Em “Minha Adorável Lavanderia” (1985), por exemplo, tem-se como protagonistas o casal homoerótico formado pelo paquistanês Omar e o punk inglês Johnny. Em "Sammy e Rosie", segunda colaboração da dupla, outro casal interracial, desta vez heterossexual, protagoniza um relato sobre a tensa Londres contemporânea. Frears de certa forma volta ao tema em "Coisas belas e sujas" (2002) sugerindo uma intensificação e uma complexificação dos conflitos raciais e sociais na Grã Bretanha. Outro diretor formado pelo Free Cinema dos anos 60,Ken Loach, toca nas questões raciais desde anos 90 ("Ladybird, Ladybird", 1994, "Carla's Song", 1996 e "Bread and Roses", 2000), mas em "Ae Fond Kiss" (2004) a tematização do desejo pós-colonial vai ser aprofundada e mesclada à discussão religiosa. As décadas de 90 e 2000 vão ampliar o discurso sobre raça no cinema britânico. E a emergência e consolidação de diretores de origem asiática como Mira Nair, Udayan Prasad, Gurinder Chadha demonstram a agudização e a urgência da temática para a compreensão da sociedade britânica contemporânea e para a análise e desmistificação dos clichês multiculturalistas em vigor desde o final da década de 80. Uma de nossas hipóteses é que, apesar de repetir certos padrões de representação da união entre raça em vigor desde a literatura do século XIX, filmes como “Minha adorável lavanderia”, “My son the fanatic” (Udayan Prasad, 1997), “Ae Fond Kiss”, e até mesmo “Bend it Like Beckham” (Gurinder Chadha, 2002), reencenam transgressivamente - em diferente graus e formas distintas, é importante sublinhar - as fantasias de sexo interracial presentes na cultura britânica pelo menos desde a era vitoriana. Um dos nossos intuitos é justamente ver como mesmo através de formas essencialmente convencionais, alguns destes filmes transcendem o didatismo ou sentimentalismo proposto pela tradição realista do cinema britânico, trazendo à tona um hibridismo imagético e narrativo que desafia e abala noções cristalizadas sobre raça e sexualidade. |
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Bibliografia | ASHBY, Justine. British Cinema: Past and Present. London: Routledge, 2000.
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