ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Entre o cinema e a videoinstalação: Sete Intelectuais na Floresta de Bambu |
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Autor | Ananda Carvalho |
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Resumo Expandido | O presente artigo reflete sobre o hibridismo dos gêneros, dos formatos e das imagens a partir da videoinstalação Sete intelectuais na floresta de bambu do artista chinês Yang Fudong, montada no Paço das Artes, em São Paulo, de janeiro a abril de 2009.
As obras de Yang Fudong discutem as confluências das oposições. São compostas por camadas que misturam o vídeo e o cinema, a sala de exibição e o espaço expositivo dos museus, o real e o imaginário, o documentário e a ficção, o campo e a cidade, a cultura tradicional e a China contemporânea, a subjetividade e a identidade social. É um trabalho que ocorre na encruzilhada, ou no encontro dos contrastes. A videoinstalação é composta por cinco filmes em preto-branco exibidos em espaços separados. Na Parte I, um grupo de jovens aparentemente bem sucedidos visita a Montanha Amarela, um ponto turístico chinês. Em meio a uma natureza exuberante, cada um questiona a sua identidade. As brincadeiras com o foco no estilo de Chott el-Djerid (A portrait in light and heat, Bill Viola, 1979) materializam esse questionamento, como se cada personagem perguntasse: quem eu sou? Na Parte II, o grupo volta à cidade e todos vão viver juntos numa casa. Além das cenas de sexo, os personagens pouco interagem. Na Parte III, os intelectuais mudam-se para o campo considerando que a experiência de viver junto à natureza os aproximaria de seu eu interior. Na Parte IV, isolam-se numa ilha deserta. Mas, a fuga é difícil e os obstáculos são evidenciados. Na Parte V, os intelectuais após apreenderem sobre si mesmos, tentam começar de novo na cidade. Entretanto, voltam com muitas perguntas. Pode-se observar a confluência dos formatos (cinema, videinstalação e fotografia) na construção dos preciosos enquadramentos com uma movimentação de câmera elaborada e uma evidente direção de atores. Os vídeos são uma sequência de retratos audiovisuais surrealistas em que a câmara assume o papel de mais uma camada na produção das múltiplas identidades. Muitas vezes o quadro é composto pelos atores parados como estátuas e o movimento é realizado pela câmara ou por apenas um deles. Outra questão interessante de se observar é que os olhares dos personagens raramente se cruzam. Os olhares fixos dirigem-se a câmera, a algo externo do quadro, ou ainda a uma reflexão subjetiva e interior. A dificuldade da convivência em grupo é recriada de uma forma indireta e complexa através dessas duas estratégias. A partir de autores como Bellour (1997), Dubois (2004) e Machado (1997), pode-se questionar as inter-relações entre o cinema e a videoinstalação. Yang Fudong foge de uma linguagem cinematográfica clássica que buscou ao longo de todo o século XX contar histórias. Ao romper a linha narrativa e a cronológica, a obra justifica a sua exibição em formato de instalação e não no isolamento da sala escura do cinema. A montagem da exposição, criada especialmente para o Paço das Artes, em que os espaços de exibição formam um semicírculo, mistura a subjetividade do espectador com o que está sendo exibido; os sons dos vídeos com o barulho externo; o sentimento da realidade exterior com a interior. Os vídeos estão em looping e, apesar das imagens estarem isoladas em projeções separadas, os áudios misturam-se. A montagem que vemos na tela, assim como a articulação entre as cinco partes, explora o imaginário do público e faz do espectador um outro editor. Neste sentido, gosto de pensar numa montagem ampliada, considerando as diversas concepções de espaço. E o espectador participa desta montagem na medida em que elabora perguntas e/ou busca respostas a partir de conceitos, temas, reflexões, e acima de tudo, sentimentos. A obra de Fudong trás uma série de oposições, entretanto me faz lembrar que a vida contemporânea não é dicotômica e sim um emaranhado de sobreposições. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. Entre-imagens. Campinas: Papirus Editora, 1997.
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