ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Fazendo por si mesmas: parceria e estilos autorais de diretoras e cantoras no campo do videoclipe |
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Autor | RODRIGO RIBEIRO BARRETO |
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Resumo Expandido | Desde a década de 1980, artistas femininas vêm se destacando como entusiastas da adoção dos videoclipes como forma artístico-expressiva e não apenas como veículo promocional. Algumas delas colocaram-se contra a rejeição inicial do mainstream do rock (masculino, branco e heterossexual) aos clipes por conta de alegadas supervalorização da imagem e subvalorização da música. Usualmente de designação pop, cantores e bandas vídeo-direcionados eram, por outro lado, mais diversificados – em termos raciais, de gênero e orientação sexual –, além de culturalmente mais receptivos à associação das empreitadas musicais com outros tipos de performance (coreográfica e dramática) e com elaboradas estratégias de construção midiática de sua própria imagem. Uma vez que os videoclipes realçam o papel de vocalistas e é essa a posição mais freqüentemente ocupada pelas mulheres, assistiu-se precocemente ao alargamento das possibilidades de ascendência de artistas como Cyndi Lauper, Madonna, Sade Adu e Annie Lennox. Em suas investidas audiovisuais, cantoras com aguçada sensibilidade para a auto-representação e versatilidade performática associaram-se a diretoras que, similarmente, tinham referências imagéticas e estilos singulares fortemente cristalizados, como Mary Lambert, Sophie Müller, Floria Sigismondi e Melodie McDaniel.
Como parte de um enfoque mais amplo sobre a atuação feminina no campo do videoclipe, a proposta aqui apresentada pretende associar a retomada da trajetória da parceria entre Annie Lennox e Sophie Müller com a análise da obra mais reconhecida e consagrada dessa colaboração, o produto audiovisual Diva (1992). Ganhador do Grammy na categoria “vídeo musical – formato longo”, Diva trata-se de um conjunto de videoclipes interconectados por seus temas, mis en scène, personagens, tipos de performance e claro pela música e presença de Lennox. A parceria entre as realizadoras selecionadas iniciou-se em 1987, quando a cantora ainda integrava o duo Eurythmics. Junto com Dave Stewart, seu parceiro musical, Annie Lennox viveu o florescer do formato videoclipe, colaborando com obras seminais que combinavam seu visual andrógino e performance artificiosa com ambiência inusitada. Sophie Müller, por sua vez, pertence a uma geração de diretores, que começou a trabalhar justamente quando o campo do videoclipe tinha alcançado suficiente autonomia no âmbito da produção audiovisual. Nesse contexto favorável, muitos assumiram um discurso de valorização tanto do formato quanto de sua própria posição autoral. Com quase 200 obras realizadas, Müller revela tal posicionamento em sua dedicação praticamente exclusiva à produção dos videoclipes. A elucidação das condições para o estabelecimento e desenrolar da parceria selecionada serão feitas – segundo um viés inspirado em Pierre Bourdieu – através da identificação dos tipos de capitais acumulados pelas realizadoras, do seu grau de controle e poder decisório, de suas influências externas e da resposta e consagração recebidas por seus trabalhos. Adicionalmente, analisar-se-á a poética dos clipes que compõem Diva, investigando seus modos de organização interna e os efeitos por eles suscitados, o que, por fim, permitirá a identificação dos estilos videoclípicos autorais atribuíveis a Lennox e Müller. Serão abordados também os modos como essas realizadoras reagem ao trabalho de outras; por exemplo, na comparação entre Primitive e Like a Virgin (Mary Lambert/Madonna, 1985). Já tendo se dedicado, no doutorado, às obras de Madonna e Björk, o proponente vê a futura comunicação como uma oportunidade de ampliar o mapeamento das personae assumidas por cantoras nos clipes e dos vínculos entre suas peculiaridades performáticas e a mis en scène concebida pela instância diretiva. O destaque dado a esse tipo de contribuição feminina justifica-se pela constatação de que as mulheres continuam sendo representadas de maneira sexista nos clipes, principalmente por artistas masculinos ou de certos gêneros, como o hip-hop. |
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Bibliografia | BARRETO, Rodrigo. A Fabricação do ídolo pop: A análise textual de videoclipes e a construção da imagem de Madonna. Salvador, 2005. 197 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Cultura Contemporânea) - Programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2005.
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