ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Vianinha e o projeto de uma televisão política |
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Autor | Reinaldo Cardenuto Filho |
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Resumo Expandido | Em 1969, quando ingressou na TV Tupi, Oduvaldo Vianna Filho já havia contribuído para uma série de experiências que permitiram formular o moderno teatro brasileiro. Como autor e intérprete do Teatro de Arena, do Centro Popular de Cultura e do Grupo Opinião, ele refletiu sobre a necessidade de se desenvolver uma nova dramaturgia a partir da qual, privilegiando-se o autor nacional, fosse possível conscientizar o espectador sobre os dilemas nacionais.
Para Vianinha, esse teatro não deveria se tornar privilégio de poucos. À arte política, em geral, cabia a tarefa de atrair um amplo público de classes distintas, em especial a popular, considerada naquele momento um sujeito histórico essencial para o processo de transformação radical das estruturas sociais brasileiras. Tanto é que, ao sair do Teatro de Arena para criar o CPC, em 1962, Vianinha escreveu o artigo Do Arena ao CPC, no qual deixava clara a sua preocupação: “O Arena era porta-voz das massas populares num teatro de cento e cinqüenta lugares... O Arena não atingia o público popular (...) É preciso produzir conscientização em massa, em escala industrial. Só assim é possível fazer frente ao poder econômico que produz alienação em massa”. Essa visão acompanharia toda a trajetória de Vianinha na Tupi e na Rede Globo. Mesmo enfrentando a oposição de alguns colegas de esquerda que renegavam o meio televisivo por considerá-lo aliado da ditadura e promotor da alienação cultural, a percepção política de Vianinha era aguçada o suficiente para perceber que nenhum meio de comunicação tinha um potencial difusor tão amplo. Para ele, integrante do PCB, os artistas comprometidos com a cultura nacional-popular deveriam ocupar todos os espaços possíveis, propondo críticas ao capitalismo a partir de seus suportes mais estratégicos. Como, então, ignorar a televisão, que “fazia a cabeça” de tanta gente e que na década de 1970 estava se tornando uma das principais fontes de informação da classe média? Os inúmeros programas escritos por Vianinha para a Globo, entre 1972 e 1974, evidenciam a sua tentativa de levar, para a televisão, um projeto de conscientização política a partir de uma experiência estética tradicional tida como necessária para estabelecer uma comunicação eficiente com o público. Em sua adaptação de Medéia (1973), episódio da série “Caso especial”, percebe-se um autor preocupado em atrair o espectador com a releitura de um clássico do teatro grego, mas que, ao transpor a história da traição de Jasão para o Rio de Janeiro, também está preocupado em expor os jogos de poder que permitem a Creonte, dono de uma escola de samba, decidir o destino de Medeia. Em outro programa, Enquanto a cegonha não vem (1974), Vianinha denuncia a propaganda em torno do milagre econômico brasileiro ao escrever a história de um casal que espera um filho e passa por sérias dificuldades financeiras. Na Globo, além desses e de outros episódios para o “Caso especial”, o dramaturgo também seria convidado a escrever os roteiros do programa A grande família. A proposta cabia perfeitamente ao seu projeto televisivo: ao criar um núcleo familiar pequeno-burguês, cujos personagens sintetizavam anseios sociais da classe média, a expectativa era, a partir de um seriado cômico e de apelo popular, propor ao espectador uma abordagem crítica sobre seus próprios valores. O objetivo dessa exposição é propor uma leitura crítica da produção televisiva de Vianinha, inserindo-a em um contexto (anos 1970) no qual as propostas intelectuais em torno do nacional-popular, antes com intenções provocativas e transformadoras, eram rapidamente absorvidas por um expansivo e cada vez mais complexo mercado capitalista de bens simbólicos. Em que medida foi possível o projeto de Vianinha no momento em que a televisão desenvolveu um audiovisual tributário da visualidade criada pela esquerda nos anos 1960, mas cujo traço evidente foi a transformação de utopias libertárias em ideologias de consumo? |
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Bibliografia | BETTI, Maria Silva. Oduvaldo Vianna Filho. Coleção Artistas Brasileiros. São Paulo, Edusp, 1997.
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