ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | “Muito falado e pouco visto”: perfil da distribuição dos documentários brasileiros na “retomada” |
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Autor | Marcelo Gil Ikeda |
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Resumo Expandido | Após os atos do então Presidente Fernando Collor de Mello, extinguindo diversos órgãos culturais, entre os quais os que representavam a base de sustentação da política cinematográfica nacional, houve a reconstrução dos mecanismos estatais de apoio à atividade cinematográfica. A partir da publicação das chamadas “leis de incentivo” (especialmente a Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual), o apoio do Estado aos projetos cinematográficos passava a ocorrer numa nova base, em que as empresas privadas realizam o aporte de capital num determinado projeto, sendo que o valor é abatido – parcial ou integralmente – no imposto devido pelas empresas (CESNIK, 2002). Desta forma, o Estado continuava sendo o indutor do processo de produção cinematográfica, mas introduzia os agentes privados como parte intrínseca desse modelo. O Estado passava a agir no processo de desenvolvimento do audiovisual brasileiro de forma apenas indireta, estimulando a ação privada, e não mais intervinha diretamente no processo econômico, produzindo ou distribuindo filmes. Apesar de os recursos em última instância permanecerem oriundos do Estado, a decisão de investir e a escolha dos projetos partiam de empresas privadas, cujo negócio muitas vezes sequer estava relacionado à atividade audiovisual. Este modelo, baseado em renúncia fiscal, de um lado era uma resposta às acusações de clientelismo na escolha dos projetos financiados pela Embrafilme (AMÂNCIO, 2000), mas por outro, deve ser visto de uma forma mais ampla: era a representação dos anseios de um certo grupo de poder, que defendia um projeto industrialista para o cinema brasileiro, preocupado em reconquistar um mercado interno que rapidamente passou a ser plenamente ocupado pelo cinema hegemônico. Em 1992, apenas 3 filmes nacionais foram lançados comercialmente, e durante três anos a participação dos filmes nacionais foi inferior a 1% (ALMEIDA E BUTCHER, 2003).
No entanto, apesar de essa política se apresentar como nitidamente industrialista, os paradoxos da construção das políticas públicas em busca de uma efetiva participação de mercado das obras de longa-metragem nacionais podem ser facilmente observados nesse período. O mais significativo deles é o expressivo número de documentários lançados comercialmente no mercado de salas de exibição. Em 2002, os documentários foram responsáveis por 34,5% do total de longas-metragens brasileiros lançados no ano: um percentual muito superior à média do mercado cinematográfico em todo o mundo. Dado o seu caráter eminentemente cultural, o alto número de documentários lançados claramente entra em contraste com o objetivo industrialista da política cinematográfica do período. O trabalho proposto pretende investigar algumas das causas desse fenômeno, típico da retomada. Procuraremos mostrar que o lançamento em larga escala de documentários entra em contraste com uma política industrialista, analisando a performance dos filmes do gênero lançados entre 1995 e 2007. Além disso, mostraremos que o aumento do número de documentários apresenta dois fatores típicos. O primeiro, mais óbvio, é o impacto da projeção digital, que possibilitou que diversos filmes documentais fossem lançados comercialmente sem a necessidade de uma cópia 35mm, evitando o custo do “transfer”. E o segundo, ainda pouco explorado, é a ampliação do escopo de ação das distribuidoras nacionais, que passaram a distribuir essas obras a partir do início deste século, à medida em que a RioFilme, principal distribuidoras de filmes nacionais do gênero, tinha sua ação enfraquecida. Por fim, exploraremos o fenômeno da “distribuição própria”, em que os próprios produtores negociam o lançamento comercial de sua obra, sem o auxílio do intermediário distribuidor, o que ocupou um papel bastante significativo no aumento dos lançamentos do gênero. |
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Bibliografia | ALMEIDA, Paulo Sérgio e BUTCHER, Pedro. Cinema, Desenvolvimento e Mercado. Rio de Janeiro: BNDES/Aeroplano, 2003.
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