ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Memória de gênero nas chanchadas: Carnaval Atlântida |
|
Autor | André Januário da Silva |
|
Resumo Expandido | A Atlântida surge na cidade do Rio de Janeiro de modo semelhante à criação da Cinédia na década de 1930, no que tange às formulações básicas de uma indústria cinematográfica, motivados pelo desejo de desenvolver uma indústria de cinema em território nacional, seguindo os padrões característicos do cinema industrial de Hollywood. Os fundadores da Atlântida buscavam constituir uma produção de filmes de forma contínua que pudesse sustentar toda a cinematografia nacional através de um aperfeiçoamento técnico e estético (AUGUSTO, 1989).
Dentre os gêneros lançados pelos estúdios cinematográficos brasileiros, a chanchada musical foi aquele que obteve maior empatia com o público. O êxito de bilheteria das chanchadas da Atlântida indicou que era possível ocorrer no Brasil uma atividade cinematográfica contínua e lucrativa. Para entendermos como essa relação entre cinema e indústria estava atrelada às condições sócio-históricas do período, faz-se necessário compreender as condições de produção daquele momento, e como elas influenciaram a cristalização do gênero. Muitos foram os fatores que convergiram para o fortalecimento desse aspecto industrial no cinema brasileiro. Dentre eles, destacamos a ascensão do governo de Getúlio Vargas; a influência da ideologia american way of life na indústria cultural norte-americana propagada no Brasil; as novas mídias e meios de entretenimento como Rádio, Teatro de Revista e a própria produção cinematográfica brasileira anterior. Que, entre tantos, contribuíram para a construção de um novo modelo sócio-cultural no Brasil (BASTOS, 2001; GONÇALVES, 2003; VIEIRA, 2003). No que tange ao hibridismo de gêneros característico das chanchadas, temos como aporte teórico-metodológico a concepção de gêneros discursivos em Mikhail Bakhtin (2008), que os concebe como substratos culturais diretamente relacionados com as condições sócio-históricas de seu tempo. Nosso objetivo neste trabalho é problematizar os elementos presentes na narrativa cinematográfica das chanchadas que vão contribuir para a conformação da linguagem híbrida desse gênero. Para tanto utilizaremos como dispositivo teórico-analítico o conceito de memória de gênero desenvolvido por Mikhail Bakhtin a partir de teorizações acerca do romance na obra de Dostoiévski. Nesse trabalho, Bakhtin percebe como se deu a vivência e a renovação da tradição de outros gêneros na ficção do escritor russo. O que particulariza essa construção discursiva na obra de Dostoiévski não é a sua memória subjetiva, mas a memória objetiva do próprio gênero por ele utilizado (BAKHTIN). O conceito de memória de gênero nos permite perceber que há um processo de retroalimentação na hibridização de gêneros: enquanto um novo surge, o anterior está sendo reatualizado e rememorado em outro espaço a partir de novas contextualizações. O corpus empírico de análise deste trabalho foi constituído a partir do texto-fílmico Carnaval Atlântida (1952), dirigido por José Carlos Burle e Carlos Manga. Este contém diversos elementos que sintetizarão diversos outros filmes do estúdio, aludidos através do recurso da metalinguagem presente nesta produção. O início da década de 1950 é também um período significativo, por se configurar como um momento de estabilidade no processo de produção, distribuição e exibição dos filmes da Atlântida, quando o gênero já se encontrava cristalizado no imaginário social do espectador. |
|
Bibliografia | AUGUSTO, Sérgio. Esse mundo é um pandeiro. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.
|