ISBN: 978-85-63552-05-1
Título | Cinema documentário na TV educativa do Amazonas: a experiência da série documentos da Amazônia |
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Autor | Gustavo Soranz |
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Resumo Expandido | Em meados de 1960 houve um movimento efervescente relacionado ao cinema na cidade de Manaus. A partir de intensa atividade cineclubista, surgiram críticos e jovens cineastas que, sintonizados com o cinema moderno daqueles anos, julgavam estar “inventando” o cinema no Amazonas. Acabaram por (re)descobrir o pioneiro cineasta Silvino Santos, revelando uma rica história de cinema que os antecedia no Estado.
Após as experiências dos primeiros filmes e festivais, essa geração buscou consolidar um pólo cinematográfico na cidade, aproveitando a euforia dos primeiros anos da Zona Franca de Manaus, o que gerou dois longas-metragens: A selva, dirigido em 1972 por Márcio Souza e Ajuricaba – o rebelde da Amazônia, dirigido em 1977 por Oswaldo Caldeira. Com o surgimento da TV Educativa do Amazonas, em meados de 1970, essa geração encontra outras bases para realizar seu tão sonhado pólo cinematográfico. O cinema possível naqueles anos em Manaus se realiza dentro de uma emissora de televisão, de finalidades culturais e educativas, que garantiu a realização de um cinema autoral em uma incipiente estrutura televisiva, em uma série de filmes intitulada Documentos da Amazônia. Em uma pesquisa que se insere no rol dos Estudos Culturais, partimos de uma concepção discursiva da cultura, onde esta não se coloca apenas como algo a ser redescoberto ou identificado, mas que é essencialmente uma prática localizada no tempo e no espaço, fruto de uma época. Para Hall (2003, p.44), “a cultura é uma produção. Tem sua matéria-prima, seus recursos, seu ‘trabalho produtivo’. Depende de um conhecimento da tradição enquanto ‘o mesmo em mutação’ e de um conjunto efetivo de genealogias”, sendo assim, buscamos pensar dois elementos distintos, em um estudo de Sociedade e Cultura: cinema e Amazônia. Tratamos do cinema no Amazonas, tendo como ponto central o período do final dos anos de 1960, quando a cidade vivenciou intensas mudanças sociais, onde o cinema foi elemento aglutinador de diferentes manifestações artísticas e culturais. Realizamos uma reconstrução da ligação da série Documentos da Amazônia com as experiências anteriores de cinema no Estado, identificando como tais vinculações contribuíram para forjar um projeto com articulações culturais amplas e de conseqüências importantes na história da cultura do Amazonas, ao passo que identificamos outras articulações ocultas, que revelam como alguns filmes amazonenses do final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970 já apontavam para a formulação de discursos que seriam matizados na série Documentos da Amazônia. Com a idéia de que cada filme desenvolve uma “voz” própria (NICHOLS, 2005), através da articulação de seus diferentes elementos estéticos e discursivos, buscamos pensar os filmes da série Documentos da Amazônia, como expressões da autoconsciência cultural de uma geração que repensava os clichês e lugares comuns sobre a Amazônia. Foram produzidos os documentários Viagem Filosófica, baseado no livro do naturalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira; Zuazo e Rita – duas artistas amazonenses, sobre as então jovens artistas plásticas amazonenses Auxiliadora Zuazo e Rita Loureiro; O Palco Verde, sobre o Teatro Experimental do Sesc – TESC - baseado em livro homônimo de Márcio Souza e Mater Dolorosa – in memorian II, sobre as formas prototípicas da cultura indígena do Alto Rio Negro. Procuramos identificar como esses filmes revelam a construção de um novo sujeito histórico, através da afirmação de uma identidade cultural por meio da apresentação da produção artística autoral em diferentes áreas, a reflexão sobre aspectos do pensamento social sobre a Amazônia no processo criativo e cultural local, a revisão da historiografia oficial sobre a região, a valorização dos mitos e cosmogonia indígenas como culturas amazônicas autênticas e, assim como, apontar as conexões dessa série de filmes com iniciativas culturais mais amplas em nível nacional e internacional. |
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Bibliografia | COSTA, Selda Vale da e LOBO, Narciso Júlio Freire. No rastro de Silvino Santos. Manaus: SCA/Edições governo do Estado, 1987
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